Chamada Aberta dossiê nº16_As Novas Veias Abertas da América Latina: projetos políticos antagônicos, alternâncias nos governos latino-americanos e impactos nas instituições
As Novas Veias Abertas da América Latina: projetos políticos antagônicos, alternâncias nos governos latino-americanos e impactos nas instituições
Monique Florencio de Aguiar (UFAL – Brasil)
Fernanda Maidana (CONICET/UNCAUS – Argentina)
Aline Moreira Magalhães (Museu de Astronomia/MCTI – Brasil)
O atual revezamento de distintos projetos políticos nos governos dos países que formam a América Latina nos coloca diante do confronto “direita versus esquerda” ou “conservadores versus progressistas”, que tem marcado o século XXI. Em geral, contemplamos um recuo da “democracia” e um avanço do “neoliberalismo” e do “neoconservadorismo”, conjuntamente a planos de golpes de Estado. Neste cenário, a instabilidade dos regimes políticos caminha junto com a influência de movimentos internacionais que colocam em causa a nossa aceitação da colonialidade. Por isso, aciono o termo “veias abertas”, eternizado por Eduardo Galeano, entendendo que as riquezas da América Latina continuam sujeitas ao controle de interesses estrangeiros mediante acordos políticos em benefício de poucos cidadãos. Mas o que há de novo nesta dinâmica? Como este processo tem sido realizado e quais os seus efeitos, em especial em nossas instituições?
Em alguns países latino-americanos, as reorientações políticas fizeram sublinhar os termos “destruição” e “reconstrução”. As formas de destruir o modelo anterior e reconstruir outro trouxeram uma disputa ou renegociação de sentidos atrelados a categorias, como “família” e “democracia”, bem como trouxeram a reorganização de práticas e de concepções predominantes nas instituições públicas. Desse modo, adoto a definição de instituição sugerida por Mary Douglas (2007:56): “instituição será usada no sentido de um agrupamento social legitimado” no qual são “compartilhadas categorias de pensamento” que harmonizam as preferências sociais.
Em resumo, observamos perenes tendências de exploração econômica e de dominação política, ao mesmo tempo em que são introduzidas novas táticas de conquista, como o uso do negacionismo, das fakenews, da militarização, das redes sociais, do ataque às minorias, entre outras. Neste bojo, as disputas por poder conformaram as denominadas guerras híbridas, jurídicas e culturais.
Assim, buscando refletir sobre o nosso processo histórico, almejamos receber para este dossiê artigos que abordem em minúcias os impactos da disputa de projetos políticos antagônicos no Estado e nas suas ações e que examinem os chamados processos de destruição ou de reorientação política em seus componentes, funcionamento e operacionalização nos locais ou nas instituições. Consequentemente, aceitaremos etnografias e análises antropológicas que explorem a situação de desgaste, desmonte ou reorientação de Conselhos, Ministérios, instituições, dinâmicas burocráticas, políticas e programas públicos; bem como abordem as articulações políticas em múltiplas esferas (organizações, partidos, parlamentos, movimentos etc.) direcionadas à realização de ataques ou à concessão de benfeitorias a frações da população.
Analisando os diferentes cenários, poderemos dimensionar o que há de novo ou de diferente nas perspectivas, valores ou formatos empregados, que terminam por impor a construção de outros olhares e abordagens no âmbito da antropologia. Portanto, este dossiê poderá contribuir para repensar a antropologia do Estado e da política, ou algumas de suas temáticas transversais, acionando diferentes contextos relacionados aos projetos políticos em disputa.