Do ponto de vista dos filhos: as mães nos relatos de jovens que viveram em acolhimento institucional até os dezoito anos
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2024.n.15.17215Palavras-chave:
Relações de parentesco, Maternidade, Sistema de Proteção, Acolhimento institucionalResumo
O acolhimento institucional implica na separação de crianças e adolescentes de suas famílias de origem devido a suspeitas ou identificação de violações de direitos. Este estudo apresenta depoimentos de cinco interlocutores com trajetórias marcadas pela intervenção estatal, que permaneceram em instituições de acolhimento até os 18 anos. Por meio da análise de entrevistas semiestruturadas e observações provenientes de uma produção audiovisual entre 2019-2023, são delineados retratos em torno das relações de parentesco, destacando, por meio das experiências descritas, continuidades e rupturas presentes entre mães e filhos. Sob o ponto de vista dos filhos, identifica-se que as referências ao modo como as mães se integram em seus percursos de acolhimento não correspondem às imagens historicamente difundidas em torno do entendimento sobre maternidades atravessadas pelo sistema de proteção à infância. Essas imagens tendem a responsabilizar individualmente as mulheres/mães pela institucionalização de seus filhos, reduzindo a dimensão estrutural subjacente a essa realidade.
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