Os emaranhados fios de pertencimento

Autores

  • Claudia Fonseca UFRGS

DOI:

https://doi.org/10.28998/rm.2019.n.6.7129

Resumo

Na análise que se segue, inspirada nos Estudos de Ciência e Tecnologia, assim como na antropologia da família e do parentesco, propomos examinar os emaranhados de pertencimento mediados por diferentes tecnologias que ajudam a moldar identidades pessoais e de grupo. Ao longo desta discussão, estaremos olhando para o tipo de “solidariedade difusa e duradoura” que cria laços entre pessoas, comunidades e até cidadãos de uma nação, trazendo consigo não apenas diferentes tons de afeto, mas também sentimentos morais de direitos e obrigações. Ao mesmo tempo que dialogamos com debates anteriores sobre o parentesco “prático” e “performativo”, nossa abordagem explora como a dinâmica de pertencimento pode ser entendida não em termos de estrutura ou mesmo escolha, mas de mediações materiais que, assim como a memória, evoluem com o tempo.

 Nosso universo empírico se constrói ao redor de um evento crítico particular no Brasil - a violação dos direitos humanos de filhos e filhas de pacientes que, em meados do século XX, foram internados à força para Hanseníase (lepra) - e o movimento político das vítimas visando reparação. Escolhemos três tecnologias interconectadas - documentos escritos, lembrança e testes de DNA - usadas pelos principais atores para calcular as conexões familiares no centro desse drama. O recurso a esses três fios de pertencimento familiar nos permite explorar não apenas a materialidade das percepções, mas também as complexas temporalidades em jogo. A noção de "cálculos", com seus múltiplos significados serve aqui para sublinhar as formas heterogêneas de conhecimento embutidas no processo contínuo e eternamente incompleto de “pertencer”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALLEBRANDT, Débora. 2011. « Perspectives théoriques dans l'étude de la famille, de l'enfance et de la parenté: un regard à partir de la comparaison entre adoption et P.M.A. » Vibrant, Virtual Brazilian Anthropology, 8(2) : 113-139.

ALLEBRANDT, Débora. 2015. « La science de la parente: adoption, genetique et identite parmi les adoptes au Bresil ». Vibrant, Virtual Brazilian Anthropology,12(1) : 141-166.

AURELIANO, Waleska de Araújo. 2015. “Health and the Value of Inheritance: The meanings surrounding a rare genetic disease”. Vibrant, Virtual Brazilian Anthropology,12(1): 109-140.

BAMFORD, Sandra e James LEACH (orgs.). 2009. Kinship and beyond : the genealogical model reconsidered. New York: Berghan Books.

BARAD, Karen. 2003. Posthumanist Performativity: Toward an Understanding of

How Matter Comes to Matter. Signs: Journal of Women in Culture and Society 2003, vol. 28, no. 3: 801-830.

BARCELOS, Artur; BORGES, Viviane. 2000. Segregar para curar? A experiência do Hospital Colônia Itapuã. Boletim da Saúde, v. 14, n. 1, p. 143-158, 2000.

CARSTEN, Janet. 2000. Cultures of relatedness. New approaches to the study of kinship. Cambridge: Cambridge University Press.

____. 2007. Ghosts of memory: essays on remembrance and relatedness. Oxford: Blackwell Pbs.

COURDURIÈS, Jérome and Cathy Herbrand. 2014. «Genre, parenté et techniques de reproduction assistée : bilan et perspectives après 30 ans de recherche ». Enfances, familles, générations, n.21: p xxviii-xliv.

DAS, Veena; Poole, Deborah, Orgs.(2004). Anthropology in the Margins of the State. Santa Fe: School of American Research Press.

EDWARDS, Jeanette; STRATHERN, Marilyn 2000. “Including our own ”. In: J. Carsten (ed.), Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 149–166.

FINE, Agnès (org.). 2008. Etats civils en questions: papiers, identités, sentiment de soi. Paris : Editions du CTHS.

FONSECA, Claudia. 1995. Caminhos da adoção. São Paulo: Editora Cortez.

FONSECA, Cláudia. 2003. “De Afinidades a Coalizões: uma reflexão sobre a “transpolinização” entre gênero e parentesco entre décadas recentes da Antropologia”. Ilha Revista de Antropologia. Florianópolis: UFSC. v. 5, n. 2:

________. 2015. Time, DNA and documents in family reckonings. Vibrant, Virtual Brazilian Anthropology, 12(1): 75-108.

FRANKLIN, Sarah e Susan McKinnon. 2001. Relative values: reconfiguring kinship studies Durham & London: Duke University Press.

GOODY, Jack (org.). 1973. The character of kinship. Cambridge: University of Cambridge Press.

JARDIM, Denise. 2016. “Imigrantes ou refugiados. As técnicas de governabilidade e o êxodo dos palestinos rumo ao Brasil no século XX”. Horizontes Antropológicos, 22(46): 243-271.

KOWAL, Emma; RADIN, Joanna & REARDON, Jenny. 2013. “Indigenous body parts, mutating temporalities, and the half-lives of postcolonial technoscience”. Social Studies of Science, 43: 465-483.

LAMBEK, Michael. 2007. “The cares of Alice Alder: recuperating kinship and history in Switzerland.” In: J. Carsten (org.), Ghosts of memory: Essays on remembrance and relatedness. Oxford : Blackwell Pbs. pp. 218-240.

LATOUR, Bruno. 2005. Reassembling the social: an introduction to actor-network-theory. Oxford: Oxford University Press

LAW, John; MOL, Annemarie. (1995). Notes on Materiality and Sociality. The Sociological Review, v.43, n.2, p. 274-294. London.

MACIEL, Laurinda Rosa; OLIVEIRA, Maria Leide Wand-del-Rey de; GALLO, Maria Eugênia N. e DAMASCO, Mariana Santos. 2003. “Memória e história da hanseníase no Brasil através de depoentes (1960-2000)”. História, Ciências, Saúde-Manguinhos 10 (supl.1): 308-336.

MCCALLUM, Cecilia e Vania BUSTAMANTE. 2012. “Parentesco, gênero e individuação no cotidiano da casa em um bairro popular de Salvador da Bahia.” Etnográfica 16 (2): 221-246.

PENCHASZADEH, Victor; SCHULER-FACCINI, Lavinia. 2014. “Genetics and human rights. Two histories: Restoring genetic identity after forced disappearance and identity suppression in Argentina and after compulsory isolation for leprosy in Brazil”. Genetics and Molecular Biology, 37(suppl. 1): 299-304.

SCHNEIDER, David. 1992 (1984). A critique of the study of kinship. Ann Arbor: Univ. of Michigan Press.

SCHNEIDER, David e Raymond Smith. 1973. Class Differences and Sex Roles in American Kinship and Family Structure (Englewood Cliffs, N.J: Prentice-Hall).

SCOTT, Parry. 2011. Families, nations and generations in women's international migration.Vibrant, Virtual Braz. Anthropology, vol.8, n.2, pp.279-306.

UZIEL, Anna Paula; MELLO, Luiz and GROSSI, Miriam. 2006. Conjugalidades e parentalidades de gays, lésbicas e transgêneros no Brasil. Revistas de Estudos Feministas, 14(2): pp.481-487.

Downloads

Publicado

2019-12-12

Edição

Seção

Interfaces Contemporâneas entre Saúde e Família