Políticas do cuidado: interfaces contemporâneas enter saúde e família

Autores

  • Débora Allebrandt Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social Universidade Federal de Alagoas
  • Waleska Aureliano UERJ

DOI:

https://doi.org/10.28998/rm.2019.n.6.9149

Palavras-chave:

família e parentesco, cuidado, Estado, saúde

Resumo

Os estudos de família e parentesco foram durante muito tempo centrais para o desenvolvimento da antropologia. Da clássica obra de Lewis Morgan (1870) que inspirou Marx e Engels em suas análises sobre o origem da família, da propriedade e do Estado, passando pelos diagramas de parentesco de Rivers (1969) e a análise estruturalista de Lévi-Strauss(1982), para citar apenas alguns autores, a temática se confundiu até certo momento com o desenvolvimento teórico-metodológico da disciplina. Entretanto, posicionamentos críticos emergiram a partir dos anos 1970, sobretudo, com o trabalho de David Schneider (1984), arrefecendo o interesse pelo tema. Schneider e outros membros da chamada antropologia simbólica sugeriram que os termos analíticos utilizados para definir família e parentesco refletiam nada mais do que os valores da sociedade dos pesquisadores, nas quais essas categorias são significadas, principalmente, através de uma noção biológica do vínculo, centrada na consanguinidade[1].


[1]Embora haja uma larga discussão na antropologia que defende a separação analítica entre os conceitos de “família" e “parentesco", adotamos aqui o uso dos termos como intercambiáveis, tal como apresentado no argumento de Claudia Fonseca em seu artigo neste dossiê, por entender que ambos estão intrinsecamente relacionados às práticas do cuidado.

Os estudos de família e parentesco foram durante muito tempo centrais para o desenvolvimento da antropologia. Da clássica obra de Lewis Morgan (1870) que inspirou Marx e Engels em suas análises sobre o origem da família, da propriedade e do Estado, passando pelos diagramas de parentesco de Rivers (1969) e a análise estruturalista de Lévi-Strauss(1982), para citar apenas alguns autores, a temática se confundiu até certo momento com o desenvolvimento teórico-metodológico da disciplina. Entretanto, posicionamentos críticos emergiram a partir dos anos 1970, sobretudo, com o trabalho de David Schneider (1984), arrefecendo o interesse pelo tema. Schneider e outros membros da chamada antropologia simbólica sugeriram que os termos analíticos utilizados para definir família e parentesco refletiam nada mais do que os valores da sociedade dos pesquisadores, nas quais essas categorias são significadas, principalmente, através de uma noção biológica do vínculo, centrada na consanguinidade



Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALLEBRANDT, Débora. Sobre mães e doadores Identidade e pertencimento sob a luz da experiência da maternidade , do direito de filiação e acesso à reprodução assistida em uma associação de famílias homoparentais do Quebec Sobre mães e doadores. Civitas, [s. l.], v. 15, n. 2, p. 309–325, 2015.

BESTARD, Joan. Knowing and relating: Kinship, assisted reproductive technologies and the new genetics. In: EDWARDS, Jeanette; SALAZAR, Carles (Eds.). European kinship in the age of biotechnology. [s.l.] : Berghahn Books, 2012. p. 19–44.

CUNHA RODRIGUES, Francisca Alice et al. Violência obstétrica no processo de parturição em maternidades vinculadas à Rede Cegonha. Reproducao e Climaterio, [s. l.], v. 32, n. 2, 2017.

DONZELOT, Jacques. A polícia das famílias. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

FINKLER, Kaja. The Kin in the Gene: The Medicalization of Family and Kinship in American. Current Anthropology, [s. l.], v. 42, n. 2, p. 235–263, 2001.

FONSECA, Claudia. De afinidades a coalizões: uma reflexão sobre a “transpolinização” entre gênero e parentesco em décadas recentes da antropologia. Revista Ilha, [s. l.], v. 5, n. 2, p. 05–31, 2003.

___________. De família, reprodução e parentesco: algumas considerações. Cadernos Pagu, [s. l.], v. d, n. 29, p. 9–35, 2007.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 2000.

INHORN, Marcia C.; BALEN, Frank Van (EDS.). Infertility around the globe : new thinking on childlessness, gender, and reproductive technologies. Berkeley, Calif. ; London: University of California Press, 2002.

LEAL, Maria do Carmo et al. The color of pain: racial iniquities in prenatal care and childbirth in Brazil. Cadernos de saude publica, [s. l.], v. 33, p. e00078816, 2017.

LEAL, Maria do Carmo; DA GAMA, Silvana Granado Nogueira. Nascer no brasil. Cadernos de Saude Publica, [s. l.], v. 30, n. SUPPL1, p. 2014, 2014.

LEONARD, Lori. Problematizing fertility: “Scientific” accounts and Chadian women’s narratives. In: INHORN, Marcia C.; BALEN, Frank Van (Eds.). Infertility around the globe. New thinking on childlessness, gender and reproductive technologies. Los Angeles: University of California Press, 2002. p. 193–213.

LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. [s. l.], p. 540, 1982.

MARRE, Diana; BESTARD, Joan. The family body: persons, bodies and resemblance. In: EDWARDS, Jeanette; SALAZAR, Carles (Eds.). European kinship in the age of biotechnology. New York ; Oxford: Berghahn Books, 2012. p. 64–78.

MAUSS, Marcel. “A expressão obrigatória dos sentimentos”. IN: _____. Ensaios de sociologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001, p. 325-335.

MORGAN, Lewis Henry. Systems of consanguinity of the human family. Washington: Smithsonian Institution, 1870.

RIVERS, William Halse. O método genealógico de pesquisa antropológica. In: ROQUE DE BARROS LARAIA (Ed.). Organização social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. p. 26–38.

SCHNEIDER, David Murray. A critique of the study of kinship. Michigan: University of Michigan Press, 1984.

SILVERMAN, Chloe. Brains, pedigrees and promisses: lessons from the politics of autism genetics. In: GIBBON, Sahra; NOVAS, Carlos (Eds.). Biosocialities, genetics and the social sciences. London ; New York: Routledge, 2008. p. 38–55.

Downloads

Publicado

2019-12-12