Escrita científica: a importância dessa habilidade para o estudante de medicina brasileiro.
DOI :
https://doi.org/10.28998/rpss.e02106018Résumé
Caro Editor,
O contato com a linguagem escrita ocorre inicialmente nos primeiros anos de vida da maioria dos indivíduos. Logo nas primeiras séries da escola, de uma forma mecânica e muito simples, o aluno é ensinado e incentivado a escrever suas ideias em um papel. Ao passar dos anos, esse mesmo aluno desenvolve habilidades de escrita mais robustas e complexas, aprendendo sobre a diferenciação dos tipos de textos e os diversos contextos em que cada um deles podem ser utilizados. Porém, é somente na graduação que a Escrita Científica começa a fazer parte da dinâmica de ensino e aprendizagem do aluno diretamente. Essa tipologia de escrita pode ser definida como a produção de novas ideias, conceitos, interpretações e modelos teóricos que visam informar, de uma forma direta e objetiva, sobre determinado tema(1).
Na graduação de Medicina, as habilidades de escrita científica são de extrema importância para a aprendizagem dos alunos e a formação deles como futuros médicos. O desenvolvimento dessas habilidades, principalmente o raciocínio científico e a própria escrita, conforme citado, contribuem diretamente para o melhoramento do cenário da Saúde Pública, visto que a compreensão da linguagem científica dentro do meio acadêmico permite ao estudante de medicina colocar em prática, na prática médica, os saberes científicos obtidos durante a sua formação(2).
Dessa forma, o estudante – e futuro profissional da saúde – pode desempenhar diversos papeis na sociedade. A princípio, podemos enxergar o médico ou o estudante de medicina como aquele que desenvolve a pesquisa e, posteriormente, o conhecimento científico obtido a partir dela. Porém, por outra perspectiva, o médico ou estudante também desempenha o papel de mediador no que diz respeito à transmissão desse conhecimento científico para a população. É o profissional da saúde que vai transmitir ao seu paciente, de forma simplificada, objetiva e com uma linguagem mais simples, o conhecimento obtido a partir de diversas pesquisas e trabalhos no campo da ciência.
A formação médica exige, portanto, a compreensão do saber científico e a capacidade de repassá-lo para a sociedade de uma forma clara, objetiva e simplificada. Fazendo com que determinado conhecimento, antes restrito a uma linguagem acadêmica, muitas vezes robusta e erudita, chegue a todas as camadas da sociedade e seja compreendido por elas.
O entendimento sobre o porquê as habilidades de escrita científica serem importantes à graduação médica vai se dando conforme o avançar da própria formação acadêmica. Alunos de períodos mais avançados, que já tiveram ou têm algum contato com pesquisa, iniciação e produções científicas, entendem mais facilmente sobre essa importância, pois, na maioria das vezes, estes já desenvolveram uma parte da sua maturidade crítica acerca dessa temática(3).
Seguindo esse raciocínio, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de graduação de medicina, no Brasil, requisitam que o médico obedeça e cumpra algumas condutas para o bom exercício da sua profissão. Na explanação acerca dessas condutas, as DCN fazem algumas citações sobre as habilidades relacionadas à ciência, reforçando a importância destas para a boa formação profissional dos futuros médicos, conforme mostrado a seguir(4).
1. Dominar os conhecimentos científicos básicos da natureza biopsicosocioambiental subjacentes à prática médica e ter raciocínio crítico na interpretação dos dados, na identificação da natureza dos problemas da prática médica e na sua resolução.
2. Exercer a medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos com base em evidências científicas.
3. Utilizar adequadamente recursos semiológicos e terapêuticos, validados cientificamente, contemporâneos, hierarquizados para atenção integral à saúde, no primeiro, segundo e terceiro níveis de atenção.
4. Conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando-lhe a leitura crítica de artigos técnicos-científicos e a participação na produção de conhecimentos.
A partir dessas citações, as DCN reforçam sobre a importância da ciência e do conhecimento científico para a aluno de medicina brasileiro. Desde o contato inicial com artigos e periódicos científicos durante a graduação, até a atuação com os pacientes na atenção primária e secundária, ou nos casos mais complexos destinados à atenção terciária de saúde, o estudante de medicina – e futuro médico – deve respaldar todas as suas ações na comprovação científica.
Concluímos, portanto, que as habilidades de escrita científica são imprescindíveis à formação dos médicos brasileiros. Estes devem entender a ciência e fazê-la entendida para toda a sociedade, contribuindo para a Saúde Pública brasileira de forma responsável.
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Références
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Reis Filho AJS, Andrade BB, Mendonça VRR, Barral-Netto M. Conhecimento científico na graduação do Brasil: comparação entre estudantes de Medicina e Direito. FapUNIFESP. 2010; 8(3):273-80. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/eins/v8n3/pt_1679-4508-eins-8-3-0273.pdf.
Ministério da Educação (BR). Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Brasília, Ministério da Educação; 2001.
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