CHAMADA PARA SUBMISSÃO - DOSSIÊ TEMÁTICO V. 15, N. 2
Chamada de submissão para dossiê temático, v. 15, n. 2, da Revista Ímpeto, até 30 de junho de 2025.
Organizadoras:
Samira Bueno Chahin
Thaisa Francis César Sampaio Sarmento
Dossiê:
Escola como equipamento de estruturação da vida cotidiana
O que é a escola?
Como uma das instituições da cidade, seu desenvolvimento programático nos conta sobre uma concepção de educação relacionada à vida urbana. Marcada pela lógica da modernidade eurocêntrica, a escola como equipamento está vinculada não apenas à urbanização, mas a uma certa ideia de cidadania aproximada ao empenho pela alfabetização. Na perspectiva de Michel Foucault, a escola é vista como uma instituição que exerce poder e controle sobre os indivíduos. Já na de Paulo Freire, a escola deve ser um espaço de libertação, diálogo e luta pela transformação social.
Ao lado da produção habitacional, a organização das comunidades urbanas passa pela implantação de equipamentos que dão suporte à vida coletiva. Entre centros comerciais inseridos no miolo dos bairros e unidades de atenção à saúde, está (ou deveria estar) a escola como elemento central na produção das espacialidades e temporalidades que definem as infâncias urbanas.
Esse espaço escolar esparramado no território, integrando a vida comunitária e alcançando as vivências de toda a vizinhança, nos conta sobre ideários urbanísticos. Nos conta também sobre outras formas de educação, nas quais outras arenas urbanas se colocam como dimensões educativas sobre os corpos de maneira fundamental.
Ao marcar a rotina dos territórios, a escola pode ser observada como “nó” das sociabilidades que acontecem na escala do bairro. A ela podemos atribuir a geração de vínculos de pertencimento e a constituição de identidades. Seja como lugar de apoio para mães e cuidadoras, seja como lugar de trabalho de professoras, o equipamento escolar é lugar de encontro, onde gerações se constituem em trocas e convivências.
Pensemos, inclusive, a escola como equipamento urbano que tem se ampliado na função de segundo lar. Lugar onde crianças, filhas e filhos de trabalhadoras, são muito além que alfabetizadas. Nele, elas são acolhidas, cuidadas e alimentadas. Papel de lar que se consolida na medida em que se cristaliza a (in)segurança dos espaços públicos e a indisponibilidade das ruas e da vizinhança em acolher o livre brincar.
No Brasil, existem 48 milhões de crianças matriculadas na educação básica de escolas públicas e privadas (Censo Escolar 2020). Todos os dias, elas se deslocam entre a casa e a escola, fazendo uso do espaço urbano. Nesse trajeto experienciam cores, texturas, formas, lugares, relacionamentos que compõem suas memórias e identidades. Os cenários são muito distintos, uma vez que o Brasil é um país muito diverso e desigual.
O ambiente escolar, que perpassa a condição de infraestrutura, pode transformar as difíceis realidades vivenciadas na infância, seja pela qualidade construtiva, pela oferta dos recursos tecnológicos e pedagógicos ou pelas relações tecidas ao longo dos muitos anos de convívio entre estudantes, professoras e gestoras. A escola como equipamento de estruturação da vida cotidiana pode ser, sim, um lugar de libertação, diálogo e luta pela transformação social.
O dossiê Escola como equipamento de estruturação da vida cotidiana pretende, portanto, mapear pesquisas em desenvolvimento sobre pensar a escola como equipamento urbano de estruturação da vida cotidiana, na escala da arquitetura e do urbano; como lugar de resistência e apropriação, onde crianças desenvolvem desde cedo sua cidadania; discutir problematizações trazidas por diversos campos inter/trans/disciplinares sobre esse locus de formação das infâncias urbanas e de suas redes de sociabilidade; além disso, questionar a escola como equipamento urbano no presente, no passado e no futuro; e está também aberto a outros temas e problematizações que possam dinamizar esse debate.
Responsáveis:
PPGAU/ FAU/ Universidade Federal de Alagoas
BrCidades
Referências:
FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo: Ed. Cortez, 1995.
CAMPOS, A.; FONSECA, C.; CASTRO, L.; BRITTO, P.; FIRMEZA, Y. (orgs.) Composto escola: Comunidades de sabenças vivas. São Paulo: N-1 Edições, 2022.
HOOKS, B. Ensinando comunidade: Uma pedagogia da esperança. São Paulo: Ed. Elefante, 2021.
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LIMA, M. S. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel, 1989.
LOPES, J. J. Terreno baldio: Um livro sobre balbuciar e crianças os espaços para desacostumar geografias - Por uma teoria sobre a espacialização da vida de bebês e crianças. São Carlos: Pedro & João Editores, 2021.
LEITE, J.; ARAÚJO, M. N. de M. A prática do espaço urbano pela criança. Arquitextos, n. 272.01, 2023. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/23.272/8696. Acesso em 12 dez. 2024.
LOUV, R. A última criança na natureza. São Paulo: Aquariana, 2018.
MARICATO, E.; ANDRADE, I. de; FERREIRA, J. S. W. A rede pública que pode transformar o Brasil. GGN, Coluna BrCidades, São Paulo, 22 fev. 2023. Disponível em: https://jornalggn.com.br/cidades/a-rede-publica-que-pode-transformar-o-brasil/. Acesso em 12 dez. 2024.
TUAN, Y. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. Londrina: Ed. Eduel, 1983.
PACHECO, J.; PACHECO, M. F. Escola da Ponte: uma escola pública em debate. São Paulo: Ed. Cortez, 2017.