O outro em narrativas sobre a Coleção Perseverança
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2022.n.12.13286Palavras-chave:
Coleção Perseverança. Museus. Coleções etnográficas.Resumo
A Coleção Perseverança é composta por objetos sagrados provenientes dos terreiros alagoanos que foram atacados no violento episódio conhecido como Quebra de Xangô, ocorrido em 1912. Naquele momento, as peças foram caracterizadas pela imprensa favorável ao Quebra como evidências de supostas práticas de feitiçaria, a partir de uma infinidade de (des)qualificativos racistas e pejorativos. Menos de 40 anos depois, as mesmas peças foram incorporadas ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e valoradas como possivelmente uma das mais preciosas coleções de objetos religiosos afro-brasileiros. Que processos implicaram tal ressignificação? Trata-se de uma ruptura efetiva ou continuidades podem ser identificadas? Almejando lançar luz sobre estas inquietações, assumo que os objetos refletem não apenas o passado do qual foram arrancados, mas também os processos posteriores que os constituíram enquanto coleção museal.
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