A tutela da informação: uma análise a partir de documentos de um parto
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2024.n.15.17045Palavras-chave:
Violência obstétrica, Etnografia de documentos, Autoetnografia, Maternidade, PartoResumo
Como a violência obstétrica pode ser materializada em documentos de um parto hospitalar? Como ela se dissipa em linhas rasuradas de prontuários médicos e em respostas como “sim” e “não” em Declarações de Nascidos Vivos? Esse artigo se debruça sobre os documentos produzidos pelo hospital e pela parturiente em um parto. O objetivo é investigar como documentos “oficiais” reportam situações relatadas pela parturiente como violentas. Esse texto parte de um exercício etnográfico de transformar uma experiência pessoal em dado de campo, e transformar o que poderia ser uma autoetnografia em um documento “não-oficial” do parto. Assim, através de uma etnografia de documentos “oficiais” e “pessoais”, o artigo explora técnicas de produção de versões e informações sobre o parto que denunciam e mascaram a violência obstétrica.
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