Das dores que vazam, que produzem o cotidiano: o trabalho do tempo no ativismo da maconha medicinal

Autores

  • Romário Vieira Nelvo Museu Nacional/UFRJ.

DOI:

https://doi.org/10.28998/rm.2019.n.6.7199

Palavras-chave:

Trabalho do tempo. Família. Maconha Medicinal. Dores. Adoecimentos.

Resumo

Este artigo trata dos dilemas cotidianos de familiares em torno do acesso à saúde no Rio de Janeiro, tendo como eixo central o caso da maconha medicinal. Propõe-se, aqui, visibilizar um conjunto de tempos, dores, fissuras, esperanças, acúmulos, e (re)inscrituras constantes de si, ou seja, a vida como um texto em que se reedita, e a luta como uma cotidianidade trabalhada nas relações miúdas e domésticas. A discussão recai sobre a família, as relações de raça e gênero, as enfermidades e as ausências de dinheiro. Priorizo os múltiplos atravessamentos temporais dos sujeitos, demonstrando o modo como o tempo é circular e desliza em situações, corpos e emoções. O tempo entrelaça as experiências de adoecimentos com a casa e as distribuições desiguais de acesso a um medicamento caro, importado, e oriundo de uma “droga”. Ao longo do artigo apresento parte da etnografia, realizada entre os anos 2017 e 2019, em que acompanho uma mãe pobre, negra e moradora de uma habitação popular.

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Biografia do Autor

Romário Vieira Nelvo, Museu Nacional/UFRJ.

Mestrando em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Museu Nacional, da UFRJ (PPGAS/MN/UFRJ). É pesquisador associado do NuSex (Núcleo de Estudos em Corpos, Gênero e Sexualidade do PPGAS/MN/UFRJ).

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Publicado

2019-12-12

Edição

Seção

Interfaces Contemporâneas entre Saúde e Família