Das dores que vazam, que produzem o cotidiano: o trabalho do tempo no ativismo da maconha medicinal
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2019.n.6.7199Keywords:
Trabalho do tempo. Família. Maconha Medicinal. Dores. Adoecimentos.Abstract
Este artigo trata dos dilemas cotidianos de familiares em torno do acesso à saúde no Rio de Janeiro, tendo como eixo central o caso da maconha medicinal. Propõe-se, aqui, visibilizar um conjunto de tempos, dores, fissuras, esperanças, acúmulos, e (re)inscrituras constantes de si, ou seja, a vida como um texto em que se reedita, e a luta como uma cotidianidade trabalhada nas relações miúdas e domésticas. A discussão recai sobre a família, as relações de raça e gênero, as enfermidades e as ausências de dinheiro. Priorizo os múltiplos atravessamentos temporais dos sujeitos, demonstrando o modo como o tempo é circular e desliza em situações, corpos e emoções. O tempo entrelaça as experiências de adoecimentos com a casa e as distribuições desiguais de acesso a um medicamento caro, importado, e oriundo de uma “droga”. Ao longo do artigo apresento parte da etnografia, realizada entre os anos 2017 e 2019, em que acompanho uma mãe pobre, negra e moradora de uma habitação popular.
Downloads
References
ABU-LUGHOD, Lila; LUTZ, Catherine. Introduction: emotion, discourse and the politics of everyday life. In: LUTZ, Catherine; ABU-LUGHOD, Lila. (Orgs.). Language and the politics of emotion. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: Racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo, 2017.
ARAUJO, Fabio. Das consequências da “arte” macabra de fazer desaparecer corpos: violência, sofrimento e política entre familiares de vítima de desaparecimento forçado. Tese (Doutorado em Sociologia e Antropologia), Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.
AURELIANO, Waleska de Araújo. Trajetórias Terapêuticos Familiares: doenças raras hereditárias como sofrimento de longa duração. Rio de Janeiro: Ciência e Saúde Coletiva, v. 23, n. 2, p. 369-380, 2018.
BIRMAN, Patrícia; LEITE, Márcia. Um Mural para a Dor: Movimentos cívico-religiosos por justiça e paz. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
BIEHL, João. The postneoliberal fabulation of power: On statecraft, precarious infrastructures, and public mobilization in Brazil. American Ethnologist, v. 43, n. 3, 2016.
BOLTANSKI, Luc. El Amor y Justicia como competencias: tres ensayos de sociología de la acción. Bueno Aires: Amorrortu, 2000.
BUTLER, Judith. Precarious Life: the power of mourning and violence. London/New York: Verso, 2004.
CARVALHO, Virgínia M.; BRITO, Margarete; GANDRA, Mário. Mães pela Cannabis medicinal em um Brasil aterrorizado entre luzes e fantasmas. Fórum Sociológico, Lisboa n. 30, p. 57-66, 2007.
DAS, Veena. Critical Events: An anthropological perspective in contemporary India. Oxford: Indian Paperbacks, 1995.
_______. Language and body: transactions in the construction of pain. Daedalus, v. 25, n. 1, p. 67-93, 1996.
_______. Fronteiras, Violência e o Trabalho do tempo: alguns temas wittgensteinianos. Brasília: Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 14, n. 40, p. 31-42, 1999.
_______. Life and Words: violence and the descent into the ordinary. Berkeley: University of California Press, 2007.
_______. Violence, Gender and Subjectivity. Palo Alto: Annual Review of Anthropology, v. 37, p. 283-299, 2008.
_______. Engaging the Life of the Other: Love and Everyday Life. In: LAMBEK, Michael, Ordinary Ethics: Anthropology, Language and Action.
New York: Fordham University Press, 2010.
_______. Affliction: health, disease, poverty. New York: Fordham University Press, 2015.
DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? Rio de Janeiro: Difel, 2018.
FARIAS, Juliana. Governo de Mortes: uma etnografia da gestão de populações de favelas no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Sociologia e Antropologia), Instituto de Filosofia e Ciências Socias, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2014.
FERNANDES, Camila. Figuras da causação: sexualidade feminina, reprodução e acusações no discurso popular e nas políticas de Estado. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
FERREIRA, Letícia. Pessoas Desaparecidas: Uma etnografia para muitas ausências. Rio de Janeiro: UFRJ, 2015.
FIORE, Maurício. Alguns desafios pós-proibicionistas: O caso da regulamentação da maconha. In: LABATE, Beatriz; RODRIGUES, Thiago, Políticas de drogas no Brasil: Conflitos e alternativas, Campinas: Mercado de Letras, 2018.
FREIRE, Lucas. O ritmo da gestão: tempo, risco e sofrimento nas “resoluções administrativas” de litígios de saúde em contextos de “crise”. Brasília: apresentação de texto em 31º Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), 2018.
GUTTERES, Anelise. A resiliência enquanto experiência de dignidade: antropologia das práticas políticas em um cotidiano de lutas e contestações junto a moradoras ameaçadas de remoção nas cidades sede da Copo do Mundo 2014 (Porto Alegre, RS e Rio de Janeiro, RJ/Brasil). Tese (Doutorado em Antropologia Social), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014.
HARI, Johann. Na fissura: uma história do fracasso no combate às drogas. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
KLEINMAN, Arthur. The Violence of Everyday Life: The Multiple Forms and Dynamics of Social Violence. In: DAS, Veena et al. (Orgs.). Violence and Subjectivity. Los Angeles, CA: University of California Press, 2000.
LABATE, Beatriz; RODRIGUES, Thiago. Proibição e guerra às drogas nas Américas: Um enfoque analítico. In: LABATE, Beatriz; RODRIGUES, Thiago (Orgs.). Políticas de drogas no Brasil: Conflitos e alternativas, Campinas: Mercado de Letras, 2018.
LACERDA, Paula. O caso dos meninos emasculados de altamira: polícia, justiça e movimento social. Tese ((Doutorado em Antropologia Social), Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.
LAMBEK, Michael. Toward na Ethics of the Act. In: LAMBEK, Michael, Ordinary Ethics: Anthropology, Language and Action. New York: Fordham University Press, 2010.
LEITE, Márcia. Mães em movimento. In: BIRMAN, Patrícia; LEITE, Márcia. Um Mural para a Dor: Movimentos cívico-religiosos por justiça e paz. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
LIMA, Fátima. Raça, gênero e sexualidades: interseccionalidades e resistências viscerais de mulheres negras em contextos bio-necropolíticos. In: RANGEL, Everton; FERNANDES, Camila; LIMA, Fátima (Orgs.). (Des)Prazer da norma. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens, 2018.
MAGALHÃES, Alexandre. Transformações no “problema favela” e a atualização das remoções de favelas no Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Sociologia), Institutos de Estudos Socais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2013.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Rio de Janeiro: Arte & Ensaios, 2016.
OLIVEIRA, Monique Batista de. O medicamento proibido: Como um derivado da maconha foi regulamentado no Brasil. Dissertação (Mestrado em Divulgação científica e cultural), Instituto de estudos da linguagem, Universidade de Campinas, Unicamp, 2016.
POLICARPO., Frederico; VERÍSSIMO, Marco; FIGUEIREDO, EMILIO. A “fumaça do bom direito”: demandas por acesso legal à maconha na cidade do Rio de Janeiro. Platô: Drogas e Política, Revista da plataforma brasileira da política de drogas, v.1, n. 1, p. 13-37, 2017.
_______. In: LABATE, Beatriz; RODRIGUES, Thiago (Orgs.). Políticas de drogas no Brasil: Conflitos e alternativas, Campinas: Mercado de Letras, 2018.
PONTES, Lauro Rodriguez De. Controvérsias, versos e vivências, um passeio psicossocial pela maconha medicinal. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Ri de Janeiro, 2017.
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: A colonização da terra e moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2015.
SOUZA LIMA, Antônio Carlos (Org.). Gestar e gerir: estudos para uma antropologia da administração pública. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
TORCATO, Carlos Eduardo. A política de drogas no início do século XX: uma leitura a partir da pediatria. In: LABATE, Beatriz; POLICARPO, Frederico (Orgs.). Drogas: Perspectivas em Ciências Humanas. Rio de Janeiro: Gramma, Terceiro Nome, NEIP, 2018.
VARGAS, Eduardo. Fármacos e objetos sócio-técnicos: notas para uma genealogia das drogas. In: LABATE, Beatriz Caiuby et al. Drogas e Cultura: novas perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008.
VARÍSSIMO, Marco. A marcha da maconha mundial no Rio de Janeiro: ativismo político e hedonismo carnavalesco na cidade pré-olímpica. Lisboa: Second International Conference of Young Urban Researchers, 2011.
VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. A guerra das mães: Dor e política em situações de violência policial. Campinas: Cadernos Pagu, v. 37, p. 79-116, 2011.
VIANNA, Adriana. Tempos, dores e corpos: consideração sobre a ‘espera’ entre familiares de vítimas de violência policial no Rio de Janeiro. In: BIRMAN, Patrícia et al. (Orgs.). Dispositivos urbanos e tramas dos viventes: ordens e resistências. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
VIANNA, Adriana; LOWEKRON, Laura. O duplo fazer do gênero e do Estado: interconexões, materialidades e linguagens. Campinas: Cadernos Pagu, v. 51, 2017.
VIDAL, Sérgio. Colhendo Kilobytes: o Growroom e a cultura do cultivo de maconha no Brasil. Salvador: UFBA, 2010.