"Salvando a Ciência": narrativas de intolerância científica e negação cultural no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2024.n.16.17936Keywords:
Negacionismo, Intolerância científica, Direita extrema , Pseudo-ciências, Saúde e culturaAbstract
O artigo objetiva explorar antropologicamente as implicações das reações anti-negacionistas no Brasil contemporâneo. O avanço do governo Bolsonaro intensificou preocupações dentro da comunidade científica sobre os perigos dos discursos negacionistas provenientes de posições políticas de extrema-direita (Szwako; Ratton, 2022). A comunidade científica brasileira tem atuado contra essas narrativas para defender a ciência e a saúde pública (Echazú Böschemeier; Almeida, 2023b). No entanto, algumas reações foram inéditas. Examinam-se narrativas do livro de 2023 “Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério”, da virologista Natalia Pasternak e do jornalista Carlos Orsi. Enquanto a obra afirma “Salvar a Ciência” dos negacionistas da direita, ataca sistematicamente várias tradições e culturas, rotulando-as como “pseudo-ciências”. Analisa-se o papel da obra na promoção da “intolerância científica” — como rejeição das ideias fora das normas científicas hegemônicas — reforçando o conservadorismo, o autoritarismo e o colonialismo.
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