É preciso se transformar em outro para ser tu mesmo: educação Kaingang e políticas afirmativas para ingresso no ensino superior
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2020.n.9.10489Palabras clave:
Educação, Xamanismo, Políticas Afirmativas, Povo KaingangResumen
Esse artigo busca compreender a educação a partir de um processo de transformação junto a todos os seres do cosmos, a partir da episteme do Povo Kaingang e do conceito êg jykre. A etnografia traz formas de ensinar e aprender que acontecem no caminhar entre as instituições de ensino superior e os territórios indígenas junto a mulheres estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e três kujá (pajés) Kaingang. O esforço etnográfico está em perceber uma educação que acontece na relação com a instituição de ensino superior (aqui pensada como um ser com a marca clânica kamē) a partir das abordagens da Antropologia da Aprendizagem e da Ciência Kaingang, que possui uma episteme organizada em noções duais de conhecimento, embasada nas marcas clânicas Kamē e Kanhru, também chamadas de rá tẽj e rá ror. Assim, aprender está relacionado às ideias de complementariedade e captura de alteridades potentes. Para tanto, também trago a categoria tãn e a compreensão da humanidade e da potência que perpassa todos os seres do cosmos. Com isso, pretendo contribuir para as reflexões sobre as políticas afirmativas desde uma perspectiva do encontro de diferentes ciências.
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