Dona Zefinha: uma história de vida compartilhada
DOI :
https://doi.org/10.28998/rm.2022.n.11.10433Résumé
Sendo parte integrante do 1º edital curta - duração - direitos humanos (2018), financiado pelo canal Futura, o qual realizamos um filme documentário. A história que apresentamos é de dona Zefinha, moradora da Aldeia Jaraguá, localizada na cidade de Rio Tinto - PB. A personagem é uma trabalhadora de reciclagens, onde coleta resíduos no lixão na cidade Marcação - PB, atividade que permite o sustento da sua família.
Ao explanar e negociar o uso de sua imagem, para ser exibida em um canal televisivo, foi que a convencemos da importância do trabalho e tivemos a permissão de realizarmos as filmagens, a edição e finalização do documentário. Pouco tempo depois do término e exibição do curta na Tv e nas suas plataformas digitais[1], fomos informados que a personagem conseguiu sua aposentadoria. Hoje, aposentada, Zefinha conquistou seu direito e o sonho de ter uma vida digna.
Com as conversações e diálogos com a interlocutora, percebemos que sua história de vida se enquadrava perfeitamente com o edital de curta - duração - direitos humanos. Aquele ano foi quando se enfatizou a discussão e institucionalização da reforma da previdência, e dona Zefinha, nos deixou bem claro da luta e esforço que vinha fazendo para conseguir sua aposentadoria, a qual tinha sido quatro vezes negada em suas tentativas, lhes tirando as esperanças de se aposentar. Ao percebermos este contexto, propusemos e negociamos com a colaboradora e sua família, de podermos através do cinema, retratar sua história e a luta pela aposentadoria.
Na realização deste trabalho coletivo, eu, Melba Godoi, Rafaella Sualdini e Caio Nobre Lisboa dividimos os equipamentos e funções nas realizações das filmagens nas atividades de campo. As filmagens foram realizadas na cidade de Rio Tinto-PB, na aldeia Jaraguá[2], nos arredores e na casa de dona Zefinha e no lixão. Com a constante preocupação em relação ao registro da sua imagem, buscamos sempre o diálogo com a colaboradora e sua família para estabelecer alianças e zonas de conforto. Nossas preocupações estavam em torno da ética do documentário (FREIRE, 2012; MENDONÇA, 2012, 2014) e no compartilhamento de sua imagem (FALCÃO NETO; LISBOA; MENDONÇA, 2017) na rede mundial de computadores e televisiva. Desta maneira, nos propusemos que a colaboradora sempre direcionasse os nossos olhares e relatasse suas indagações sobre nosso trabalho e de como poderíamos melhor abordar a sua história.
Naquele momento os quatros estudantes de Antropologia[3], tentaram e estabeleceram relações simétricas com a colaboradora no campo de pesquisa. Neste sentido, partíamos de um saber compartilhado (HIKIJI, 2013) que através da foto e vídeo - elicitação (BANKS, 2005; COLLIER JR., 1973) exibíamos as imagens produzidas na casa da moradora sempre que terminávamos as filmagens. Desta maneira, tínhamos a recepção, a concordância, a discordância e o retorno daquilo do que e do que não podíamos compartilhar e exibir.
Sendo assim, em meio as designações e funções no campo de trabalho, optei (José Muniz) por ficar responsável em montar um making-of do filme no registro fotográfico por uma Sony D-7000 com uma lente 50 mm. A ideia inicial era capturar os momentos de filmagem e as interlocuções com Zefinha e sua família na direção de formar um acervo fotográfico do nosso documentário. E com a organização do material separamos algumas fotografias para possíveis publicações. Nestas orientações, este ensaio visual apresenta um pouco da vida cotidiana de dona Zefinha, principal personagem do curta-metragem. Com o objetivo de evocar sua cotidianidade e suas vivências, o trabalho expressa a partir da estética fotográfica, as reações e experiências cotidiana de nossa colaboradora na construção do filme Memórias Visíveis.
Concomitantemente, propõe-se refletir como a fotografia expressa a relação da personagem com a câmera e sua função enquanto método de interpretação antropológica. Quais imaginários podemos construir a partir destas fotografias? (TACCA, 2002) Diante do caráter polissêmico das imagens e sua utilização não como ilustração mas como ferramenta de pesquisa, de que maneira o discurso verbal e visual se correlacionam (SAMAIN, 1992, 1999) na orientação do olhar do espectador e do leitor desconhecido? Até que ponto a fotografia consegue apresentar e representar a realidade de uma circunstância social? Estas são também algumas das reflexões que pretendo evocar a partir deste ensaio visual. Portanto, exibirei a seguir, as fotografias e suas respectivas legendas revelando a complementaridade (Ibdem, 1992, 1999) da linguagem visual e verbal.
Saliento, ainda, que as fotografias foram capturadas no dia 02 de agosto de 2018 e passaram por uma edição no programa CC Adobe Photoshop Premiere CS6realizadas por Rafaella Sualdini.[1] Para assistir ao documentário acessar o site: http://www.futuraplay.org/video/memorias-visiveis/496083/
[2] A aldeia pertence a cidade de Rio Tinto-PB.
[3] Raffaela Sualdini e Melba Godoi graduandas do curso de bacharel em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba - Campus IV/Rio Tinto, ambas atualmente na fase final do curso, Caio Nobre Lisboa e José Muniz Falcão Neto estudantes de Pós-Graduação em Antropologia pela UFPB/Campus IV e I/Rio Tinto e João Pessoa, defenderam suas respectivas dissertações no ano de 2019. Todxs vinculados ao grupo de pesquisa da UFPB AVAEDOC (Antropologia Visual, Artes, Etnografias e Documentários) localizado na UFPB cidade de Rio Tinto.