O declínio do homem provedor chefe de família: entre privilégios e ressentimentos
DOI:
https://doi.org/10.28998/rchv11n22.2020.0010Resumo
As mudanças na sociedade brasileira, pós-década de 1990, resultaram em mudanças na condição masculina. Assim, busca-se investigar como o declínio da hegemonia do homem como chefe de família se articula a construção social da masculinidade em seu período. Parte-se de uma pesquisa de caráter exploratória que recorre a fontes documentais e bibliográficas. Os dados apontam que em 1995 cerca de 23% dos domicílios eram chefiados por mulheres, em 2019 esse percentual é de 48%. Esse movimento no chefiamento do lar coincide com um contexto no qual os homens tem cada vez se ressentido com as conquistas femininas/feministas. Sem perceber os frutos do privilégio da condição de gênero, bem como das mudanças no âmbito do capitalismo em sua dimensão neoliberal, os homens têm assumido uma posição ressentida buscam no passado um lugar onde encontram segurança.
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