Produzindo anonimato em espaços de tradição: o forró eletrônico no Cariri

Resumo

A partir de material etnográfico recolhido nas festas de forró eletrônico na região do Cariri, no Nordeste do Brasil, tento perceber diferentes maneiras de apropriação do típico como forma de representação e apresentação de si aos outros. Leituras canônicas das Ciências Sociais relacionam festas e espacialidades como espaços modelares estruturados. Nessa perspectiva, o forró tem sido re(a)presentado como dança de casais em uma paisagem marcada pela tradição e pessoalidade. Mostro que a prática contemporânea do forró como espetáculo possibilita a incorporação criativa de diferentes projetos pelos sujeitos ali presentes, tecidos a partir de citacionalidades e mimeses comumente associadas ao mundo urbano. Esse modelo complexo, comunicado nas festas, possui como tropos as ideias de “mulher-bebida-agência”, ao tempo em que se beneficia do inesperado, de zonas de luz e sombra, para insinuar a possibilidade de criação de personagens para si no espaço de saturação da festa. O forró eletrônico associa ainda, por oposição e ironia, as ideias de tradição e ruralidade, fundadoras da ideia de Nordeste brasileiro, convidando a produzir novas apresentações espaciais pautadas na urbanidade, juventude e anonimato.