A cartografia que virou turbante
Relações entre tecnologia, corpo e território
Resumen
Este artigo apresenta a sistematização, ou seja, um relato analítico, de um projeto de pesquisa-ação na área de gênero e design. A motivação política e teórica para desenvolver a pesquisa foi repensar o design a partir de uma perspectiva feminista, por meio do resgate de técnicas ancestrais - sistematicamente apagadas pelas ordens coloniais e patriarcais, que historicamente excluem as mulheres, sobretudo aquelas racializadas, do trabalho tecnológico. Inicialmente, o projeto tinha como objetivo analisar o trabalho feminino no canteiro de obras (um espaço hegemonicamente masculinizado) e elaborar um manual que compilasse tecnologias desenvolvidas pelas mulheres nesses espaços. Foram partícipes do projeto, além da equipe de pesquisadoras, um quilombo, no Maranhão, construindo uma cozinha comunitária; um grupo de mulheres da periferia do Rio de Janeiro, trabalhando com redes comunitárias de apoio aos locais de produção coletiva, para enfrentar a pandemia; e um grupo de pescadoras, em Alagoas. A escolha metodológica por instrumentos participativos e da educação popular, inspirados pelo design participativo e pela teoria da sacola, de Le Guin (2021), foram conduzindo a um processo de ressignificação desses objetivos iniciais, das percepções compartilhadas que tínhamos sobre o que é tecnologia e sobre o que é um canteiro de obras, assim como a própria ideia do que é um manual, mudando significativamente o produto final elaborado. A PANA, ao mesmo tempo objeto e conteúdo, tecido de amarrar e manual, é um reflexo da influência das relações e práticas potencialmente transformadoras das mulheres engajadas no processo de investigação: uma relação corporalmente imbricada aos territórios que habitam.