A maternidade como um espaço de opressão: aprisionamentos e silenciamentos da mulher-mãe
DOI:
https://doi.org/10.28998/rm.2024.n.15.17078Palavras-chave:
Maternidade, Mulheres-mães, Cuidado, Opressão, AutoetnografiaResumo
O presente artigo, alicerçado nas epistemologias feministas e na autoetnografia, apresenta reflexões sobre a maternidade como espaço de opressão. Desse modo, apesar de considerar a condição materna circunscrita e delimitada da pesquisadora, e, portanto, que não reflete todas as maternidades e formas de afiliação, discute como as mulheres-mães, de forma geral, estão aprisionadas no cativeiro da maternidade e submetidas à vigilância e ao controle do dispositivo da maternidade. Nesse sentido, a visão romântica da maternidade é questionada, uma vez que é inegável a opressão às mulheres-mães no que diz respeito ao mito do amor materno, à ética do cuidado e à divisão sexual do trabalho. Como apontamentos, o artigo sinaliza a necessidade de problematizar a maternidade de maneira a contribuir para o já estabelecido campo de estudo, apresentando uma discussão sobre a não romantização da condição materna e, sobremaneira, sobre a maternidade como um espaço de opressão.
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