“Contra as investidas leoninas de uma indomável fera humana”: masculinidades e família em Iraty-PR, (1912-1920).

Autores

DOI:

https://doi.org/10.28998/rchv11n22.2020.0012

Resumo

Este artigo apresenta e problematiza a masculinidade hegemônica produzida pelo discurso jurídico de Iraty, de 1912 até 1920, período de elevação populacional e de registros de homicídios na região. Iraty foi fundada no contexto de ocupação do sudeste do Paraná, a partir de uma política de branqueamento da população brasileira que visou o direcionamento estratégico de levas imigratórias europeias e de preenchimento dos “vazios demográficos”. O processo de ocupação insere-se em um projeto político de nação encabeçado pelas elites brasileiras, conforme sugere Richard Miskolci esse projeto fundamentou-se em uma política externa de imigração e interna de moralização, cujo esforço visou constituir uma nação branca, reprodutiva e, portanto, heterossexual. No Estado do Paraná constatamos o esforço das elites em reproduzir esse ideário. Enquanto na capital Curitiba proliferaram-se, no final do século XIX e início do século XX, discursos e práticas políticas que visaram dar legitimidade à vinda e reprodução imigrante para ocupação do interior e respectivo desenvolvimento regional, no interior, o poder judiciário atuou com tentativas de normatizar o sexo das pessoas através de uma judicialização das condutas. Tais tentativas consolidaram uma subjetividade masculina performática e modelar atrelada à defesa da família, conforme elucida a análise do discurso jurídico no recorte espaço-temporal selecionado. Para referida análise, nos valemos da noção de discurso desenvolvida por Michel Foucault assim como reportamo-nos à noção de performances de gênero de Judith Butler e masculinidade hegemônica de Raewyn Connel.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucas Kosinski, Universidade Federal do Paraná

Doutorando no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná.

Referências

BROWN, Wendy. Cidadania Sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018.

CHALHOUB, Sidney. Trabalho, lar e botequim: O cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da belle époque. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001.

CONNELL, Robert “Raewyn”. MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos feministas. vol. 21, 2013.

CORBIN, Alain. Introdução. In: CORBIN, Alain. (Org.). História da Virilidade. O triunfo da virilidade. O século XIX. Petrópolis: Vozes, 2013.

CORREA, Mariza. Morte em família: representações jurídicas de papeis sexuais. Rio de Janeiro, Graal, 1983.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. São Paulo: Editora Boitempo, 2017.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo, Loyola, 2006.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1980.

FOUCAULT, Michel. Segurança, Território e População. Curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 2013.

GRUNER, Clóvis. Paixões torpes, ambições sórdidas: transgressão, controle social, cultura e sensibilidade moderna em Curitiba, fins do século XIX e início do XX. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.

MAGALHÃES, Marion Brepohl. Paraná: política e governo. Coleção História do Paraná. Curitiba: SEED, 2001.

MARCH, Kety Carla de. Jogos de luzes e sombras: processos criminais e subjetividades masculinas no Paraná dos anos 1950.Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.

MARTINS, Romário. História do Paraná. Curitiba: Guaíra, 1953.

MATOS, Maria Izilda Santos de. Por uma História das Sensibilidades: em foco a masculinidade História: Questões e Debates. Curitiba, Ano 18, nº 34, 2001a.

MATOS, Maria Izilda Santos de. Meu lar é o botequim: alcoolismo e masculinidade. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 2001b.

MISKOLCI, Richard. O desejo da nação: masculinidade e branquitude no. Brasil de fins do XIX. São Paulo, Annablume/FAPESP, 2012.

MONTELEONE, Joana de Moraes. Pedro II e o império de casaca: os sentidos de poder nos trajes masculinos no Segundo Império. Almanack [online], n.15, 2017.

NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2001.

ORREDA, José Maria. Revista do Centenário Nº8. História. Irati: O Debate, 2008.

RAGO, Luzia Margareth. Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar. Brasil 1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Masculinidade e virilidade entre a Belle Époque e a República. In: PRIORE, Mary del; AMANTINO, Marcia (Orgs). História dos homens no Brasil. São Paulo: UNESP, 2013.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das. Letras, 1993.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; COSTA, Ângela Marques da. 1890-1914: no tempo das certezas. São. Paulo: Cia. das Letras, 2000.

SOCHODOLAK, Hélio; KOSINSKI, Lucas; SOCZEK, Leonardo; CEZARINHO, Filipe. Santa Albertina: páginas de dor, (in)justiça e devoções populares. Curitiba: CRV, 2019.

SOIEHT, Rachel. Violência simbólica. Saberes masculinos e representações masculinas. Estudos feministas, vol 5 nº1, Florianópolis, 1997.

STORCH, Robert. O policiamento do cotidiano na cidade vitoriana. Revista Brasileira de História, v. 5, n. 8/9, 1984/85.

Downloads

Publicado

2022-06-27

Como Citar

Kosinski, L. (2022). “Contra as investidas leoninas de uma indomável fera humana”: masculinidades e família em Iraty-PR, (1912-1920). Revista Crítica Histórica, 11(22), 260–280. https://doi.org/10.28998/rchv11n22.2020.0012