A vida e os tempos de João Gomes: escravidão, negociação e resistência no Atlântico negro
DOI:
https://doi.org/10.28998/rchvl7n13.2016.0006Resumo
Até pouco tempo, os historiadores acreditavam que era impossível aprender muita coisa sobre a vida pregressa de pessoas escravizadas no Brasil que nasceram na África. Com base na nova historiografia da África e do Mundo Atlântico, assim como materiais como o banco de dados www.slavevoyages.org, historiadores do Brasil conseguem traçar as experiências de africanos escravizados antes e depois da sua chegada ao Brasil. A reconstrução deste Mundo Atlântico revela a maneira em que educação e experiência, numa conjuntura histórica específica, desenvolveram as noções de escravidão, comunidade e liberdades dos africanos escravizados no Brasil. Este trabalho reconstrói a história da vida de João Gomes, um homem escravizado, nascido na primeira metade do século XIX, de origem congo em Angola, mas que como adulto viveu escravizado em Ilhéus, Bahia. Fazer essa reconstrução revela por que ele escapou da fazenda onde sofreu o cativeiro, por que ele não gostou da vida de quilombola e por que confessou um crime que provavelmente não cometeu. A história de Gomes revela que entender o contexto histórico específico no qual nasceram, em vez de imaginar um passado geral “africano”, é essencial para entender os pensamentos, emoções e estratégias para sobrevivência das pessoas escravizadas no Brasil.Downloads
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