As facetas jurídicas de um homem subalternizado. Alagoas Colonial, 1755.

Autores

  • Anne Karolline Campos Mendonça Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.28998/rchvl8n15.2017.0022

Resumo

O caso a seguir se fundamentou na observação do protagonismo de indivíduos que foram considerados inferiores dentro da lógica hierárquica social de Antigo Regime português. Partindo de um ponto de vista sobre a concepção e execução da Justiça, o presente texto busca compreender os mecanismos da utilização de direitos que circundavam aqueles que não possuíam privilégios. Para tal feita, debruça-se, mais enfaticamente, sobre o pedido de Lázaro Coelho de Eça, realizado por volta de 1754. Filho de um capitão da aldeia que almejava comandar, Lázaro se colocou na posição de súdito ultramarino, apesar da vigência de pensamento político e social que o afastava forçosa e violentamente dos caminhos que lhes eram desejados. Seu requerimento não será analisado aqui pela vertente do micropoder resistente, mas antes andará em desacordo com a tendência historiográfica atual. O foco desse trabalho é, justamente, interagir com a realidade deste indivíduo que concebendo possibilidades de “negociação” com o monarca dava movimento a um quadro judicial que aparentemente o beneficiava, quando na verdade o conduzia às funções básicas da Justiça, servindo mais especificamente a determinados objetivos de grupos sociais que se consideravam superiores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Anne Karolline Campos Mendonça, Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco

Historiadora. Atualmente desenvolve pesquisa de Doutorado, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco, onde trabalha com Concepções e Execução da Justiça em Alagoas Colonial (XVIII). Mestra em História pela Universidade Federal de Alagoas, após concluir estudo sobre a Relação das Mulheres com a Justiça e o Direito na Comarca das Alagoas (XVIII). Graduada em História pela mesma universidade, onde iniciou seus primeiros trabalhos sobre Justiça local e régia na região sul da Capitania de Pernambuco. É membro ativo do Grupo de Estudos América Colonial (GEAC - Ufal) desde 2010.

Referências

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1975.

BICALHO, Maria Fernanda. FERLINI, Vera Lúcia Amaral (orgs.). Modos de Governar: ideias e práticas políticas no império português – séculos XVI-XIX. – São Paulo: Alameda, 2005.

BICALHO, Maria Fernanda B. “Elites coloniais: a nobreza da terra e o governo das conquis-tas. História e historiografia.” In: Anais Optima Pars. Lisboa, 2002.

BIGNOTTO, Newton (Org.). Matrizes do republicanismo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2012.

BOXER, Charles. O império marítimo Português. 1415-1825. – São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

BOXER, Charles R. A Idade do Ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade co-lonial. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 2012.

FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima S. (orgs.) Na trama das redes: políticas e ne-gócios no Império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: 2010.

FREITAS, Décio. Palmares: a guerra dos escravos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.

FREITAS, Décio. República de Palmares: pesquisas e comentários em documentos históri-cos do século XVII. – Maceió: Edufal: Ideário, 2004.

GINZBURG, Carlo. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Cia das letras, 1989.

GINZBURG, Carlo. “O nome e o como. Troca desigual e mercado historiográfico”. In: A Micro História e outros ensaios. Lisboa: Difel, 1991.

GINZBURG, Carlo. Medo, reverência, terror: quatro ensaios de iconografia política. São Paulo: Cia das Letras, 2014.

GOMES, Flávio (org.). República de Palmares: historiografia e fontes (Séc. XVI-XIX) – Rio de Janeiro: 7Letras, 2010, p. 336. Negritos meus.

GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

GREENE, Jack. Negociated Authorities. Essays in Colonial Political and Constitutional His-tory. Charlottesville and London: University Press of Virginia, 1994.

GRUZINSKI, Serge. As quatro partes do mundo. História de uma mundialização. Belo Hori-zonte, Editora UFMG; São Paulo, Edusp, 2014.

HESPANHA, Antonio Manuel. XAVIER, Ângela Barreto. “As redes clientelares”. In: HES-PANHA, António Manuel (coord.). História de Portugal, o antigo regime (vol. IV). Dir. José Mattoso. Lisboa: editorial estampa, 1992.

HESPANHA, António Manuel. “A mobilidade social na sociedade de Antigo Regime”. Re-vista Tempo. Rio de Janeiro, nº 21, volume 11, julho de 2006.

HESPANHA, António M. “Fundamentos antropológicos da família de Antigo Regime: os sentimentos familiares”. In: HESPANHA, António Manuel (coord.). História de Portugal, o antigo regime (vol. IV). Dir. José Mattoso. Lisboa: editorial estampa, 1992.

HESPANHA, António M. Imbecillitas: As bem-aventuranças da inferioridade nas socieda-des de Antigo Regime. São Paulo: Annablume, 2010.

HESPANHA, António M. O direito luso-brasileiro no Antigo regime. Florianópolis: Funda-ção Boiteux, 2005.

HESPANHA, António M. Cultura jurídica europeia. Síntese de um milêncio. Mira-Sintra: Publicações Europa-América, 2003.

JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil Contemporâneo. Colônia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

JÚNIOR, Waldomiro Lourenço da Silva. A Escravidão e a Lei: gênese e conformação da tradição legal castelhana e portuguesa sobre a escravidão negra na América, séculos XVI-XVIII. 2009. História. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

LARA, Silvia Hunold. Campos da Violência: escravos e senhores na Capitania do Rio de Janeiro, 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

LARA, Silvia Hunould. Fragmentos Setecentistas: Escravidão, cultura e poder na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

MACHADO, Alex Rolim. “Vagabundos trabalhadores: os Ciganos, as manufaturas e os ca-valos. Experiências social-mercantil em Alagoas Colonial, c. 1680-1722”. (Texto inédito, em vias de publicação).

MACHADO, Alex Rolim. Os poderes além da inquisição: a sociabilidade dos familiares e comissários do Santo Oficio nas atividades seculares e administrativas locais (Alagoas Co-lonial, 1674-1820). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Alagoas. Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes. Programa de Pós-Graduação em His-tória, Maceió, 2016. Disponível em: http://www.ufal.edu.br/unidadeacademica/ichca/pos-graduacao/mestrado-em-historia/banco-de-dissertacao/defesas-2014. Acesso em: 13/06/2017.

MACHADO, Alex Rolim.

MAESTRI, Mário. “Como era Gostoso ser Escravo no Brasil: a apologia da Servidão Volun-tária de Kátia de Queirós Mattoso”. Revista Crítica Histórica. Ano VI, nº 12, Dezem-bro/2015.

MARQUES, Dimas Bezerra. Pelo bem de meus serviços, rogo-lhe esta mercê: a influência da Guerra de Palmares na distribuição de mercês (Capitania de Pernambuco, 1660-1778). – Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Alagoas. Instituto de Ciên-cias humanas, Comunicação e Artes. Programa de Pós-Graduação em História. Maceió, 2014.

MAURO, Frédéric (coord.). Nova história da expansão portuguesa: o império luso-brasileiro, 1620-1750. Direção de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques. – Lisboa: Edito-rial Estampa, 1991.

MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: o imaginário da restauração pernambucana. – 3. ed. rev. – São Paulo: Alameda, 2008.

AUTOR. 2017, pp. 31-50.

AUTOR. 2017 pp. 107-129.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo (coord.). História da vida privada em Portugal: A idade mo-derna. Direcção de José Mattoso. – Lisboa: Temas e Debates: Círculo de Leitores, 2011.

OLIVAL, Fernanda. As ordens militares e o Estado Moderno: honra, mercê e venalidade em Portugal (1641-1789). – Lisboa: Estar Editora, 2001.

PAIVA, Eduardo França. Dar nome ao novo: uma história lexical da Ibero-América entre os séculos XVI e XVIII (as dinâmicas da mestiçagem e o mundo do trabalho). – Belo Horizon-te: Autêntica Editora, 2015.

QUEIJA, Berta Ares. “Las categorias del mestizaje: desafios a los constreñimientos de um modelo social em el Perú colonial temprano”. HISTORICA. Pontifica Universidad Católica del Perú. Lima, v. XXVIII, nº 1, 2004.

RAMINELI, Ronald J. Nobrezas do Novo Mundo: Brasil e Ultramar hispânico, séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro, Editora FGV: 2015.

REGINALDO, Lucilene. Os Rosário dos Angolas: irmandades de africanos e crioulos na Bahia Setecentista. São Paulo: Alameda, 2001.

RUSSELL-WOOD, A. J. R. "Centros e periferias no mundo luso brasileiro: 15001808". Re-vista Brasileira de História, v. 18, n. 36. São Paulo: ANPUH/Humanitas Publicações, 1998.

SILVA, Maria B. Nizza da. Sistema de Casamento no Brasil Colonial. São Paulo: EDUSP, 1984.

SOARES, Márcio de Sousa. “A promessa da alforria e os alicerces da escravidão na América portuguesa”. In: GUEDES, Roberto. Dinâmica imperial no Antigo Regime português: escra-vidão, governos, fronteiras, poderes, legados: Séc. XVII-XIX. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011.

THOMPSON, Edward Palmer. Senhores e caçadores: a origem da Lei Negra. – Rio de Ja-neiro: Paz e Terra, 1987.

THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. – São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

VAINFAS, Ronaldo. Trópicos dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

VAINFAS, Ronaldo. Ideologia e Escravidão. Petrópolis: Vozes, 1986. THORTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico. 1400-1800. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

VIANNA, Larissa. O idioma da Mestiçagem: as Irmandades de Pardos na América Portugue-sa. Campinas, São Paulo: Editora da UNICAMP, 2007.

Downloads

Publicado

2017-12-14

Como Citar

Campos Mendonça, A. K. (2017). As facetas jurídicas de um homem subalternizado. Alagoas Colonial, 1755. Revista Crítica Histórica, 8(16), 102–126. https://doi.org/10.28998/rchvl8n15.2017.0022