Entre meninos e meninas: fronteiras de gênero borradas em contexto de educação infantil

Authors

  • Ericka Marcelle UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
  • Lenira Haddad UFAL

DOI:

https://doi.org/10.28998/lte.2016.n.2.2619

Abstract

O presente trabalho apresenta um recorte de uma pesquisa de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas. A pesquisa objetivou investigar como o gênero é vivido, significado e representado pelas crianças, quais conhecimentos, saberes e elementos sociais e culturais são atuantes nesse processo de construção do gênero e como as crianças usam o que sabem e aprendem sobre esses elementos nas interações e relações sociais que estabelecem com seus pares e com os adultos em contexto de educação infantil. Trata-se de um estudo de viés etnográfico e de abordagem qualitativa, com treze crianças com idade entre quatro, cinco e seis anos, sendo cinco meninos e oito meninas, de uma turma do segundo período de uma instituição de educação infantil da cidade de Maceió/Alagoas. Com a intenção de captar diferentes perspectivas das crianças, foram utilizados quatro procedimentos de geração de dados: oficinas de brincadeiras, realizadas em um ambiente especialmente estruturado com brinquedos distribuídos em áreas de interesses como casinha, brinquedos, beleza e fantasias, na brinquedoteca da instituição; oficinas de conversas com as crianças, tanto sobre as brincadeiras realizadas quanto a partir de cenas do filme “O menino do vestido cor de rosa” e também a partir de imagens que contrariavam estereótipos de gênero. Para tanto, o estudo apoia-se no referencial dos estudos de gênero (Louro, 2011; Meyer, 2007; Scott, 1995), na abordagem interpretativa de Corsaro (2009; 2011), bem como na perspectiva dos estudos sociais da infância (Thorne, 1993; Ferreira, 2002; Buss-Simão, 2012), dentre outros. Partindo das relações estabelecidas entre meninas e meninos e dos referenciais teóricos assumidos no estudo, foram estruturadas três categorias principais de análise: “fronteiras borradas entre meninos e meninas”, em que o sentido do gênero enquanto fronteira se dilui; “fronteiras marcadas entre meninas e meninos”, em que a delimitação e acentuação dessas fronteiras se destacam em momentos específicos; “imagens plurais de masculinidades e feminilidades”, em que se evidenciam particularidades, semelhanças e diferenças nas formas como os meninos e as meninas constroem suas masculinidades e feminilidades nas interações estabelecidas com o grupo de pares, mediadas por informações reinterpretadas do mundo adulto. Para efeito deste artigo, as análises centram-se no borramento das fronteiras de gênero entre meninos e meninas e trazem episódios em que comportamentos ou objetos tidos socialmente como tipicamente masculino ou feminino não são assim considerados pelas crianças em suas brincadeiras em um contexto de educação infantil.

 

Palavras-chave: Educação Infantil. Identidade de gênero. Reprodução interpretativa. Cultura de pares. Pesquisa com crianças.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Ericka Marcelle, UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Pedagoga licenciada pela Universidade Federal de Alagoas (2012), Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Alagoas (2015), na linha de pesquisa Processos Educativos. Estudante do Curso de Especialização Lato Sensu "Gênero e Diversidade na Escola - GDE", na mesma instituição. Membro do grupo de pesquisa Educação Infantil e Desenvolvimento Humano (Centro de Educação - UFAL). Atualmente atua na Assessoria da Superintendência de Medidas Socioeducativas do Estado de Alagoas - SUMESE. Tem experiência como educadora na área de Formação e Qualificação Profissional. Possui experiência em Coordenação Pedagógica. Tem experiência como pesquisadora na área de Educação com ênfase em Educação Infantil, atuando nos seguintes temas: educação e gênero, identidades de gênero, cultura de pares, sociologia da infância, formação de professoras/es da educação infantil.

References

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Como a sociologia da infância de William A. Corsaro pode contribuir com as pedagogias das escolas de educação infantil? In: MULLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria Almeida. (Orgs). Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009.

BUSS-SIMÃO, Márcia. Relações sociais de gênero na perspectiva das crianças pequenas na creche. Cadernos de Pesquisa, v.43, n. 148, p. 176-197, jan./abr. 2013. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cp/v43n148/09.pdf. Acesso em 14. Dez. 2014.

BUSS-SIMÃO, Márcia. Relações sociais em um contexto de educação infantil: um olhar sobre a dimensão corporal na perspectiva de crianças pequenas. 321 p. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Florianópolis, SC, 2012.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. De Renato Aguiar. 6. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013

CARVALHO, Ana M. A; PEDROSA, Maria Isabel; ROSSETI-FERREIRA, Maria Clotilde. Aprendendo com a criança de zero a seis anos. São Paulo Cortez, 2012.

CORSARO, Willian A. A reprodução interpretativa no brincar ao “faz de conta” das crianças. Educação, Sociedade & Culturas. Porto, n. 17, p.113-134, 2002.

CORSARO, Willian A. Entrada no campo, aceitação e natureza da participação nos estudos etnográficos com crianças pequenas. Educação e Sociedade. Campinas, vol. 26, n. 91, p. 443-464, Maio/Ago, 2005. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br > Acesso em 12. Jan. 2014.

CORSARO, Willian A. Reprodução interpretativa e cultura de pares. In: MULLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria Almeida. (Orgs). Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009a.

CORSARO, Willian A. Métodos etnográficos no estudo da cultura de pares e das transições iniciais na vida das crianças. In: MULLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria Almeida. (Orgs). Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009b.

CORSARO, Willian A. Sociologia da infância. Tradução de Lia Gabriele Regius Reis. Porto Alegre: Artmed, 2011.

CRUZ, Silvia Helena Vieira. (Org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo: Cortez, 2008.

DELGADO, Ana Cristina Coll; MÜLLER, Fernanda. Abordagens etnográficas nas pesquisas com crianças. In: CRUZ, Silvia Helena Vieira (Org.) A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo: Cortez, 2008.

FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Pequena infância, educação e gênero: subsídios para um estado da arte. Cadernos Pagu, n. 26, p 279-287, jan-jun. 2006. Disponível em: http//www.scielo.br/pdf/cpa/n26/30394.pdf. Acesso em 20. Dez. 2012.

FELIPE, Jane; GUIZZO, Bianca Salazar. Entre batons, esmaltes e fantasias. In: MEYER, Dagmar Estermann; SOARES, Rosângela de Fátima Rodrigues (Orgs.). Corpo, gênero e sexualidade. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2008.

FERREIRA, Maria Manuela Martinho. “- A gente aqui o que gosta mais é de brincar com os outros meninos!” – as crianças como atores sociais e a (re) organização social do grupo de pares no cotidiano de um Jardim de Infância. Dissertação de doutoramento em Ciências da Educação, Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, 2002.

FINCO, Daniela. Educação infantil, espaços de confronto e convívio com as diferenças: análise das interações entre professoras e meninos e meninas que transgridem as fronteiras de gênero. Tese de Doutorado (Doutorado em Sociologia da Educação). Universidade de São Paulo, 2010.

GRAUE, M. Elizabeth; WALSH, Daniel. Investigação etnográfica com crianças: teorias, métodos e ética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

GROSSI, Mirian Pilar. Identidade de gênero e sexualidade. Florianópolis: UFSC, 1998. Disponível em <http://miriamgrossi.paginas.ufsc.br/files/2012/03/grossi_miriam_identidade_

de_genero_e_sexualidade.pdf >. Acesso em 12. Dez. 2014.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 12ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

LOURO, Guacira Lopes. Uma sequência de atos. Cult, São Paulo, v.185, Nov 2013. Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2013/11/uma-sequencia-de-atos/ Acesso 20. Jan. 2015.

MEYER, Dagmar Estermann. Gênero e educação: teoria e política. In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre. (Orgs.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

MEYER, Dagmar Estermann; SOARES, Rosângela de Fátima Rodrigues. Corpo, gênero e sexualidade nas práticas escolares: um início de reflexão In: MEYER, Dagmar Estermann; SOARES, Rosângela de Fátima Rodrigues (Orgs.). Corpo, gênero, e sexualidade. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2008.

ROCHA, Eloísa Acires Candal. Por que ouvir as crianças? Algumas questões para um debate científico multidisciplinar. In: CRUZ, Silvia Helena Vieira (Org.) A criança fala: a escuta de crianças em pesquisas. São Paulo: Cortez, 2008.

ROSEMBERG, Fúlvia. Caminhos cruzados: educação e gênero na produção acadêmica. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 27, n. 1, p. 47-68, 2001.

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Tradução de Christine Rufino Dabat e Maria Betânia Ávila. Recife: SOS Corpo, 1991. Disponível em <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf> Acesso em 12. Dez. 2014.

THORNE, Barrie. Gender Play: girls and boys in school. Open University Press Buckingham, 1993.

WEST, Candace; ZIMMERMAN, Don H. Doing Gender.

Gender and Society, Vol. 1, No. 2, 125-151. 1987. Tradução livre de Márcia Buss-Simão.

Published

2018-05-14

How to Cite

MARCELLE, Ericka; HADDAD, Lenira. Entre meninos e meninas: fronteiras de gênero borradas em contexto de educação infantil. Latitude, Maceió-AL, Brasil, v. 10, n. 2, 2018. DOI: 10.28998/lte.2016.n.2.2619. Disponível em: https://seer.ufal.br/index.php/latitude/article/view/2619. Acesso em: 21 nov. 2024.

Issue

Section

Dossiê "Ser criança no Brasil de hoje: (re)invenções da infância