Turismo e práticas afrorreligiosas em unidades de conservação
uma relação conflituosa?
Palavras-chave:
Ecoturismo, Matriz africana, Relação social, Áreas protegidas, ConflitoResumo
As Unidades de Conservação (UCs) no Brasil são utilizadas para a realização de atividades como pesquisas científicas, educação ambiental, recreação, ecoturismo e para fins religiosos. No entanto, as práticas afrorreligiosas são frequentemente vistas como incompatíveis com o uso público das UCs e conflituosas com a atividade turística. Diante disso, o presente artigo tem como objetivo desconstruir a existência de uma oposição entre o turismo e as práticas afrorreligiosas e declarar as UCs como um espaço democrático de uso público. Partindo-se de uma perspectiva antropológica, a metodologia caracteriza-se como pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, com as coletas de dados feitas de fontes secundárias e bibliográficas. Para análise deste artigo, foram selecionados o Parque Nacional da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca. A partir dos planos de manejo desses parques, pode-se verificar que as práticas afrorreligiosas são vistas como poluidoras e degradadoras do meio ambiente, podendo afetar a beleza cênica e as atividades turísticas das UCs. Contudo, foi mostrado que os afrorreligiosos têm uma intrínseca relação com a natureza, pois as divindades africanas são indissociáveis da natureza. As UCs mostram-se como espaços públicos territorialmente protegidos onde os usos múltiplos devem ser assegurados, tanto turísticos, como afrorreligiosos. Assim, as UCs vistas como palco de conflitos, podem ser espaços democráticos, onde a justiça, a igualdade e a liberdade religiosa devem imperar. Mas para isso, é de extrema importância que haja avanços nas políticas públicas ambientais, para transmutar a ignorância do conservadorismo, do preconceito, da intolerância e do racismo ambiental ainda presentes no Brasil. Um olhar inclusivo para práticas afrorreligiosas e turísticas em UCs pode auxiliar na construção de políticas públicas democráticas, compartilhando o meio ambiente sem limitações, considerando e valorizando a visão da comunidade afro, assegurando a liberdade afrorreligiosa e desconstruindo a ideia de oposição entre as duas atividades.
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