O estudo das trajetórias de atores e atrizes ainda é uma lacuna historiográfica?
apontamentos, possibilidades e contribuições
DOI:
https://doi.org/10.28998/rchv14n28.2023.0014Palavras-chave:
PALAVRAS-CHAVES: estudos biográficos; trajetórias artísticas; Fernanda Montenegro.Resumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre a incipiência de estudos de dimensão biográfica referentes às trajetórias artísticas na historiografia brasileira, especialmente de atores e atrizes. Para isso, em um primeiro momento, apresento um mapeamento de pesquisas biográficas realizadas por historiadores nos últimos anos, a partir de um exercício de estado da arte/revisão bibliográfica de uma parcela dessa produção. Na sequência, referencio alguns dos poucos estudos de fôlego que, na História, investigaram percursos de atores e atrizes, e problematizo a lacuna que ainda existe em relação a esse tipo de abordagem. Em uma terceira parte, aponto algumas possibilidades e caminhos a serem desbravados por historiadores que, porventura, se interessem em estudar tais itinerários. Por fim, comento sobre as questões que tenho estudado em minha tese de doutorado – um trabalho em desenvolvimento que trata da trajetória artística de Fernanda Montenegro, e cujo objetivo é compreender o projeto autobiográfico empreendido pela atriz ao longo do tempo. Ao preocupar-se com a produção da memória artística, o trabalho se insere junto aos estudos biográficos e à história do tempo presente, operando nesta lacuna e contribuindo para uma ampliação de pesquisas sobre trajetórias artísticas no Brasil.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Fábio Chang de. O Historiador e as Fontes Digitais: uma visão acerca da Internet como fonte primária para Pesquisas Históricas. Revista Aedos, v. 3, n. 8, 2011.
ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Traduçãode Paloma Vidal. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.
ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 11, n. 21, p. 9-34, jan./jun. 1998.
AVELAR, Alexandre de Sá; SCHMIDT, Benito Bisso (Orgs.). Grafia da vida: reflexões e experiências com a escrita biográfica. São Paulo (SP): Letra e Voz, 2012.
AVELAR, Alexandre; SCHMIDT, Benito Bisso. Dois historiadores falam sobre biografia e escrita biográfica (Entrevista). Entrevista concedida a Bruno Leal Pastor de Carvalho. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/biografia-e-escrita-biografica/. Publicado em: 21 nov. 2017. Acesso: 24 set. 2023
AVELAR, Alexandre de Sá. SCHMIDT, Benito Bisso. O que pode a biografia. São Paulo: Letra e Voz, 2018.
BARRERO JUNIOR, Roger Camacho. Entre lágrimas, sorrisos e muita luta: a inserção das mulheres nos espaços políticos do Brasil por meio das trajetórias de três militantes de esquerda – Lélia Abramo (1911 –2004), Luíza Erundina de Sousa (1934 –) e Irma Passoni (1943 –). Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021a.
________________________________. Erigindo monumentos com palavras: a repercussão do falecimento de Lélia Abramo e sua influência na gestão de uma memória póstuma. Anais do 31° Simpósio Nacional de História [livro eletrônico]: história, verdade e tecnologia organização Márcia Maria Menendes Motta. 1. ed. São Paulo: ANPUH-Brasil, 2021b.
________________________________. Palmas para Lélia Abramo (1911-2004): a construção de uma memória em três atos. Revista Aedos, v. 15, n. 33, 2023.
BATISTA, Natalia Cristina. História e memória: o golpe militar sob o olhar artístico-político de João das Neves. História Oral, v. 19, n. 2, p. p. 27–47, 2016.
_____________________________. Nos palcos da história: teatro, política e liberdade. São Paulo: Letra e Voz, 2017.
BATISTA, Natália Cristina. O tempo em processo: cultura na ditadura militar e os impasses em torno do popular na peça "O último carro" (1964-1978). 2019. Tese (Doutorado em História Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
______________________. Uma trabalhadora pode ser atriz? Desafios metodológicos na análise da entrevista de Marina Euzébio, atriz da montagem “O último carro”... In: Pandemia e Futuros Possíveis: Anais do XVI Encontro Nacional de História Oral. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2022.
BORGES, Viviane. A invenção de Arthur Bispo do Rosário: Loucura, Arte e Patrimônio Cultural. São Paulo: Letra & Voz, 2019.
BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaina.; FERREIRA, Marieta de Moraes.
(Org.). Usos & abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p.183- 191.
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BRANDÃO, Tânia. Máquina de repetir e a fábrica de estrelas: Teatro dos Sete. Rio de Janeiro: 7Letras, 2002.
________________. Falas de camarim: história oral e história do teatro. Sala Preta, v. 17, n. 2, p. 72-83, 2017.
________________. O ator e o olhar: Eva Todor, gestus social, gestus histórico. In: FONTANA, Siqueira Siqueira.; GUSMÃO, Henrique Buarque de (Orgs). O palco e o tempo: estudos de história e historiografia do teatro. Rio de Janeiro: Gramma, 2019. p. 229-252.
CABRAL, Geovani Gomes.; SCHMIDT, Benito Bisso.; DA SILVA, Wilton Carlos Lima. Escritas Biográficas e Trajetórias: desafios no campo historiográfico. Escritas do Tempo, v. 2, n. 4, p. 3-6, 30 jun. 2020.
CARVALHO, Raphael Guilherme de. Sérgio Buarque de Holanda, do mesmo ao outro: escrita de si e memória (1969-1986). Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2017.
CARVALHO, Bruno Leal Pastor de; TEIXEIRA, Ana Paula Tavares. História Pública e divulgação de história. São Paulo: Letra e Voz, 2019.
CARVALHO NETO, Pedro José de; SILVA, Matheus de Paula.; FERNANDES, Letícia Oliver. A História Pública que queremos: entrevista com Ricardo Santhiago. Epígrafe, [S. l.], v. 8, n. 8, p. 283-331, 2020.
CRUZ, Gleise Andrade. De olho na eternidade: a construção do arquivo privado de Antônio Carlos Jobim. Dissertação (Mestrado Profissionalizante) – Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 2008.
DEL PRIORE, Mary. Tarsila: uma vida doce-amarga. Rio de Janeiro: José Olímpio, 2022.
DELACROIX, Christian. A história do tempo presente, uma história (realmente) como as outras? Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, p. 39 ‐ 79, jan./mar. 2018.
DELGADO, Andréa Ferreira. A invenção de Cora Coralina na batalha das memórias. Tese (doutorado em História) - Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2003.
DOSSE. François. História do tempo presente e historiografia. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 4, n. 1 p. 05 – 22, jan/jun. 2012.
FÉLIX, Rodrigo da Silva. Dona Teresa Cristina e os rastros de memória: entre a invenção da
Mulher-Monumento e a escrita de si. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2014.
FONTANA, Fabiana Siqueira; CANTANHEDE, Caroline. Representação da memória das artes cênicas: relatos de uma experiência no Cedoc/Funarte. Anais Abrace, Campinas, v. 17, n. 1, p. 2414-2429, 2016.
FONTANA, Fabiana Siqueira. O desejo de guardar e as tarefas de proteger e disponibilizar: notas para a consolidação do patrimônio documental do teatro no Brasil. Revista Aspas, v. 9, n. 1, p. 63-77, 2019.
FONTANA, Siqueira Siqueira.; GUSMÃO, Henrique Buarque de (Orgs). O palco e o tempo: estudos de história e historiografia do teatro.Rio de Janeiro: Gramma, 2019.
FOSHESATTO, Cyanna Missaglia. Fragmentos da trajetória de um pintor na transição do século XIX para o século XX: Pedro Weingärtner e suas redes sociais. MÉTIS: história & cultura – v. 15, n. 30, p. 150-171, jul./dez. 2016.
GARCIA, Miliandre. “Ou vocês mudam ou acabam”: aspectos políticos da censura teatral (1964-1985). Topoi, v. 11, n. 21, jul.-dez. 2010, p. 235-259.
_________________. Censura, resistência e teatro na ditadura militar. Concinnitas, Rio de Janeiro, v. 19, n. 33, p. 144-177, 2018.
GOMES, Angela de Castro (Org.). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
GOMES, Angela de Castro.; SCHMIDT, Benito Bisso (Orgs.). Memórias e narrativas (auto) biográficas. Rio de Janeiro: Ed. FGV; Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2009.
GUENZBURGER, Gustavo. Acendam as luzes, o mambembe voltou!: de Artur Azevedo ao Teatro dos Sete, redenção e idealismo na invenção póstuma da belle époque teatral. 2011. Dissertação (Mestrado em Teoria e Literatura Comparada) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
GUENZBURGER, Gustavo. Rio, cenas decisivas: teatro entre televisão, patrocínio e política. 2015. 288 f. Tese (Doutorado em Literaturas de Língua Inglesa; Literatura Brasileira; Literatura Portuguesa; Língua Portuguesa; Ling) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015a.
__________________________________. Fernanda Montenegro em O mambembe: o quelque chose da diva moderna. Sala Preta, v. 15, n. 1, p. 135-155, 2015b.
HAGEMEYER, Rafael Rosa; SARAIVA, Daniel. Esse mundo é meu: as artes de Sérgio Ricardo. Curitiba: Appris, 2018.
KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo. Estudos sobre história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora UNICAMP, 1996.
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.
LOPES, Caroline Cantanhede. Guardar para todos a memória de muitos: projetos e políticas para a preservação da memória das artes cênicas no Brasil. 2020. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
LOPES, Caroline Cantanhede. Arquivos e coleções de mulheres no Cedoc/Funarte: um diagnóstico. História e Cultura, v. 11, n. 1, p. 308-324, 2022.
MACNEIL, Heather. Sem consentimento: a ética na divulgação de informações pessoais em arquivos públicos. Belo Horizonte: UFMG, 2019.
MAGALHÃES, Aline Monteiro. Troféus da guerra perdida: um estudo histórico sobre a escrita de si de Gustavo Barroso.Tese (doutorado em História) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Rio de Janeiro, 2009.
NOIRET, Serge. História Pública Digital, Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 28-51, 2015.
OLIVEIRA, Márcia Ramos de. Reflexões sobre o gênero biográfico: literatura, ilusão e disputas de memória. In: GONÇALVES, Janice (org.). História do Tempo Presente. Oralidade - memória - mídia. Itajaí: Casa Aberta, 2016. p. 101-116.
PARANHOS, Kátia Rodrigues. Plínio Marcos e João das Neves: caminhos cruzados, trajetórias, arte e engajamento no Brasil pós-1964. In: AVELAR, Alexandre de Sá e SCHMIDT, Benito Bisso (orgs.). Grafia da vida: reflexões e experiências com a escrita biográfica. São Paulo: Letra e Voz, 2012, p. 169-188.
PATRIOTA, Rosangela. Antonio Fagundes no palco da História: um ator. São Paulo: Perspectiva, 2018. 487p.
PEREIRA, Bruna Meyer. O ator e os seus múltiplos: a trajetória de Antonio Mário dos Santos e o circuito cultural em Alagoinhas (1961 - 1987). Dissertação (Mestrado em História). Universidade do Estado da Bahia, 2022.
PONTES, Heloísa. Inventando nomes, ganhado fama: as atrizes do teatro brasileiro, 1940-68 Etnográfica, vol. 12, núm. 1, maio, 2008, p. 173-194.
_______________.Teatro, gênero e sociedade (1940-1968. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 22, n. 1, 2010.
_______________. Intérpretes da Metrópole: História Social e relações de gênero no teatro e no campo intelectual. São Paulo: EDUSP, 2011.
_______________. Álbum de famílias: fotobiografia, memória e história no teatro brasileiro. Política & Sociedade: Revista de Sociologia Política, v. 21, n. 50, 2022.
RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013
RODRIGUES, Rogério Rosa; BORGES, Viviane Trindade (org.). História Pública E História Do Presente. Letra e Voz, 2021.
ROUSSO, Henry. A última catástrofe. A história, o presente, o contemporâneo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2016.
SANTHIAGO, Ricardo. História oral e as artes: percursos, possibilidades e desafios. História Oral, v. 16, n. 1, p. 155–187, 2013.
____________________. (Org.). História oral e arte: narração e criatividade. São Paulo: Letra e Voz, 2016.
____________________. “Ele foi meu muro”: Liberdade artística e liberdade narrativa em uma metaentrevista pública. Revista Memória em Rede, v. 10, n. 18, p. 83-111, 2018a.
____________________.; SALLES, Astrid. A autoconstrução narrativa de uma artista: uma conversa com Astrid Salles. PORTO ARTE: Revista de Artes Visuais, v. 23, n. 38, 2018b.
____________________.; BORGES, Viviane. Entre redescobertas e emergências: história pública e escritas biográficas no tempo presente. In: Rogério Rosa Rodrigues...[et al.] (Orgs.). Fio que se faz trama: a história do tempo presente e a responsabilidade na pesquisa histórica.Vitória, ES : Editora Milfontes, 2022. p. 83-112.
SARAIVA, Daniel Lopes. “Cá entre nós”: trajetória e memória de Wanda Sá. Revista Escritas do Tempo – v. 2, n. 4, mar-jun/2020 – p. 246-275.
_____________________.; DAHÁS, Nashla. História e memória das artes na ditadura: O testemunho de Carlos Gregório. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 77, p. 237–262, 2023.
SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo biografias - historiadores e jornalistas: aproximações e afastamentos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 10, n.19, p. 3-21, 1997.
____________________. Biografia e regimes de historicidade. MÉTIS: história & cultura – v. 2, n. 3, p. 57-72, jan./jun. 2003.
____________________. Quando o historiador espia pelo buraco da fechadura: biografia e ética. História (São Paulo) v.33, n.1, p. 124-144, jan./jun. 2014.
____________________.Contar vidas em uma época presentista: A polêmica sobre a autorização prévia. In: AVELAR, Alexandre de Sá. SCHMIDT, Benito Bisso. O que pode a biografia. São Paulo (SP): Letra e Voz, 2018. p. 17-31.
SILVA, Júlio Cláudio da. Relações raciais, gênero e memória: a trajetória de Ruth de Souza entre o Teatro Experimental do Negro e o Karamu House (1945-1952). Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2011.
_____________________. Uma estrela negra no teatro brasileiro: relações raciais e de gênero nas memórias de Ruth de Souza. (1945-1952). Editora UEA, Manaus. 2017.
_____________________. Interseccionalidade e lutas por direitos nas trajetórias das atrizes negras, Ruth de Souza, Léa Garcia e Zezé Motta, (1940-1960). Canoa do Tempo, v. 14, p. 1–29, 2022.
_____________________. Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: A Trajetória e o Protagonismo de Léa Garcia. Editora UEA, Manaus, 2023.
SOARES, F. da S. Entre a história pública e a história digital: a oficina historiográfica de Bruno Leal e o Café História. História Oral, v. 21, n. 2, p. 159–176, 2019.
TEDESCO, Cristine. Uma análise das representações de Artemisia Gentileschi (1593-1654). Revista Ambivalências, v. 3, n.6, p. 139-168.
VALENTINI, Daniel Martins.“Teatro de equipe ou alienação individual”: o Teatro Oficina como projeto coletivo (1961-1974). História Oral, v. 19, n. 2, p. 7–26, 2016.
VENTURINI, Mayara Brandão. A escrita autobiográfica de Thomas Jefferson: um projeto de representações de si. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2017.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Ana Carolina MachadoEste trabalho está licenciado sob uma licença
https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/br/
Os autores detém os direitos autorais sem restrições, devendo informar a publicação inicial nesta revista, em caso de nova publicação de algum trabalho.