O gótico no regionalismo de Coelho Neto: uma forma de representação e compreensão
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202274.89-100Resumo
Com uma nova edição de Esfinge (ed. Legatus), e com dois contos presentes na coletânea gótica Medo imortal (ed. Darkside), Coelho Neto tem sido reconhecido como um dos precursores do gótico brasileiro. O estilo está presente não apenas em obras urbanas, como essas; mesmo seu clássico Sertão pode ser visto como livro não apenas regionalista, mas também gótico: temos contos com um morto-vivo ("Praga"), uma suposta bruxa ("O enterro"), uma casa, metonímia de família, chegando ao seu fim ("A tapera"), fantasmas ("Mandoví") e necrofilia ("Os velhos"), características próprias da literatura gótica. Mortos-vivos também estão presentes em "Assombramento" e "Segundas núpcias", do livro Treva. Analisaremos alguns desses contos onde o autor maranhense utiliza o horror para retratar o fim catártico de relações — filhos, esposas, maridos que, em relações disfuncionais, quando creem ter escapado delas, veem-se frente a frente com algum ser sobrenatural —, além de buscar compreender como os princípios religiosos do autor podem ter guiado suas criações fantásticas. Utilizaremos, como fundamento teórico, as obras Gothic, de Fred Botting, e Gothic histories, de Clive Bloom, mostrando como Coelho Neto fez parte da corrente que compõe o gótico rural brasileiro.