Machado: sob o signo da Antropofagia
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202274.101-114Resumo
No presente trabalho, analisa-se o romance Machado (2016), de Silviano Santiago, com o objetivo de compreender e demonstrar como o discurso da Antropofagia está implicitamente presente no processo de criação de uma metanarrativa cujos personagens principais são Machado de Assis e o próprio narrador homônimo do autor, que desempenha um papel de profundo conhecedor da escrita machadiana. O conceito de Antropofagia, elaborado inicialmente por Oswald de Andrade em seu “Manifesto Antropófago” de 1928, tem sido amplamente estudado e se difundiu entre críticos e pensadores da época até o presente. Sua formulação como metáfora orgânica de assimilação da alteridade parece interseccionar a metanarrativa ficcional, histórica e crítica no romance, pois ao associar o biográfico, o autobiográfico, o documental e o crítico, o narrador-personagem desenvolve uma análise reflexiva acerca da vida e obra de Machado de Assis em que se percebe a antropofagia como forma de processamento da herança da tradição cultural brasileira e ocidental. Nesse sentido, primeiramente, é importante fundamentar a ideia da antropofagia oswaldiana para posteriormente avançar à análise da metanarrativa que tem o escritor do Cosme Velho como personagem ao lado do narrador-Silviano como um intérprete antropófago dos materiais de que se apropria para construir seu texto.