Mistério, infinitude e transcendência: reflexões sobre a dimensão sublime do conto Olhos d’água, de Conceição Evaristo
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202379.123-133Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar o conto Olhos d’água, de Conceição Evaristo, a partir da categoria estética do sublime a fim de mostrar como os sentidos metafóricos e metonímicos construídos nesta narrativa evidenciam o caráter de mistério, infinitude e transcendência ligado à cor dos olhos maternos, a qual como um vínculo genealógico (SOUSA; FREITAS, 2021) une as personagens e revela a importância do reconhecimento à ancestralidade feminina. Com base nas ideias de Longino (1996) e de Kant (1995), pretendemos demonstrar ainda que as figuras de linguagem presentes, no conto, sobretudo, a “metonímia”, a “metáfora” e a “anáfora”, atuam conjuntamente para promover a sublimidade na história. De modo mais específico, acreditamos que essas figuras são estratégias fundamentais para que o sublime matemático (KANT, 1995), seja manifestado e sugerido no conto. A análise indica que a capacidade de “reflexo” dos olhos maternos revela a possibilidade de transcendência de uma realidade imediata, caracterizada, principalmente, pelas privações sociais e questões relacionadas ao racismo, para uma realidade mais espiritual, representada pela resistência de mulheres negras que conservam as tradições de origem africana e reconhecem a importância da sabedoria e história de suas ancestrais.