O corpo drummondiano em As contradições do corpo e Eu, etiqueta
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202376.32-46Resumo
Este artigo analisa três poemas do autor Carlos Drummond de Andrade, sendo: “As Contradições do Corpo” e “Eu, Etiqueta”, ambos pertencentes a coletânea Corpo, publicado em 1984. O objetivo é investigar como o poeta criou uma dinâmica do corpo enquanto Contradição e Etiqueta; e por que, afinal, o corpo é motivo para poesia. Inegavelmente, o corpo abarca questões de ordem tanto social quanto subjetiva. É especificamente esse o ponto explorado por Drummond ao separar o corpo social de um corpo subjetivo (o “eu”). Uma corporeidade e um corpo, indissociáveis e tensos. Ao criar essa ambiguidade geradora de tensão, a poesia desvela a natureza da ligação de um sujeito consigo mesmo; ambiguidade que transborda para a relação desse sujeito com a sociedade na qual está inserido. Mas qual sujeito? Quem é esse “eu” enunciado nestes dois poemas? De quem é esse corpo? Qual corpo? O espaço de enunciação não está preenchido. Se, conforme Benveniste (1974), eu é quem diz eu, esse espaço precisa ainda ser ocupado; o enunciado, portanto, só existe em potência, e o poema só funcionaria depois de preenchido, visto que não existe um sentido que o preenche a priori. Isto é, o regime de historicidade de um poema não ocorre a priori, pois é concebido pela relação entre o espaço de experiência e o horizonte de expectativa, o que torna a própria historicidade um acontecimento. Logo, busco entender, sobretudo a partir de Provase (2016) e Safatle (2016), os conceitos de historicidade e corporeidade que emergem dos poemas de Drummond e de que modo esse corpo se constitui e circula nessa sociedade capitalista.