O Turismo como instrumento ideológico velado
As sombras da ditadura militar na promoção turística brasileira
DOI:
https://doi.org/10.28998/ritur.V14.N2.A2024.pp134-150.18328Palavras-chave:
Turismo, embratur, FotografiaResumo
Uma imagem vale mais que mil palavras, é o que muitos costumam dizer. Entretanto, na presente pesquisa tal afirmação passa a ser questionada. O trabalho parte do contexto de retomada das políticas públicas voltadas ao turismo, em plena ditadura civil-militar de 1964, com a criação da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) em 1966. Em meio a um cenário fascista de brutalidade, censura e opressão, uma nova atividade surge, com a promoção de um país belo e descolado da realidade. Partindo da premissa que o turismo estava alinhado e foi utilizado como ferramenta para reforçar o discurso da ditadura, marcadamente o discurso da integração nacional, foi analisado um folder promocional da região Nordeste. Esta região, que juntamente com a Amazônia, por muitos anos foram as localidades mais divulgadas pela EMBRATUR. O objetivo foi compreender como as sete imagens que compõem o material promocional selecionado foram utilizadas para fomentar a ideologia pregada pelo regime militar, evidenciando o que elas escondem e a mensagem que desejam transmitir. As imagens foram analisadas considerando sua forma de conteúdo, como proposto por Mauad (1996) e os três elementos que constituem uma fotografia segundo Kossoy (2001), o assunto, o fotógrafo e a tecnologia. Como resultado, evidencia-se a utilização do turismo com forte viés ideológico, utilizado na construção da narrativa de uma identidade nacional. As fotografias promocionais do Nordeste apontam para a ideia de miscigenação pacífica entre indígenas, negros e brancos, constituindo o queria seria uma “brasilidade”.
Downloads
Referências
ALFONSO, Louise Prado. EMBRATUR: formadora de imagens da nação brasileira. 2006. 150 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Antropologia Social, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
ARAÚJO, Maria Paula; SILVA, Izabel Pimentel da; SANTOS, Desiree do Reis. Ditadura Militar e Democracia no Brasil: história, imagem e testemunho. Rio de Janeiro: Ponteio, 2013.
BARTHES, Roland. Mitologias. 5ª. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2006.
BENI, Mario Campos, MOESCH, Marutschka. Do discurso da Ciência do Turismo para a Ciência do Turismo. Revista Turismo & Desenvolvimento, (25), 9-30, 2016.
BENI, Mario Campos, MOESCH, Marutschka. A TEORIA DA COMPLEXIDADE E O ECOSSISTEMA DO TURISMO. Turismo - Visão E Ação, 19(3), p 430-457, 2017.
CRARY, Jonathan. Techniques of the Observer. Cambridge: Mit Press, 1990.
CUNHA, Ariana de Barros Ferreira. (2008). A imagem como arma: o uso ideológico das imagens de guerra [Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Pós Graduação em Artes da Escola de Belas Artes].
DA SILVA, S. K. M.; ALVES, M. L. B. Fotografias da “Cidade do Sol”: um registro de revelações e ocultações. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, [S. l.], v. 8, n. 3, p. 456–475, 2014.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. 2 Ed. Campinas: Papirus, 1998.
ENDRES, Ana Valéria. As políticas de turismo e os novos arranjos institucionais na Paraíba/Brasil [Tese (doutorado), Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Florianópolis], 2012.
FRAGELLI, Claudia; IRVING, Marta de Azevedo; OLIVEIRA, Elizabeth. Turismo: fenômeno complexus da contemporaneidade?. Caderno Virtual de Turismo, [S. l.], v. 19, n. 3, 2020.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e Senzala. São Paulo: Global Editora, 2003.
GASTAL, Susana. Turismo, imagens e imaginários. São Paulo: Aleph, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2002.
GIL, Antonio Carlos. O delineamento da pesquisa. In: GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 2. ed. São Paulo: Atlas S.A, 1989. Cap. 6. p. 70-80.
GIUMBELLI, Emerson. Emerson Giumbelli. Dados: Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 51, n. 1, p. 75-105, 2008.
GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: Charney, L. e Schwartz, V. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
KOSSOY, Boris. Fotografia e história. Buenos Aires: Biblioteca de La Mirada, 2001.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. 5. ed. São Paulo: Boitempo, 2005.
MAUAD, Ana Maria. ATRAVÉS DA IMAGEM: fotografia e história interfaces. Tempo. Rio de Janeiro, p. 73-98. 1996.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. Brasiliense. 1985.
PEREIRA, S. M. M. (2023). O CONCEITO DA MISCIGENAÇÃO NA OBRA CASA-GRANDE & SENZALA DE GILBERTO FREYRE [Monografia (Graduação), Curso de Ciências Sociais - Licenciatura, Chapecó].
SANTOS FILHO, João dos. Mitos e ladainhas do fazer turístico: apologia ao fetiche. In: Anais do III Seminário Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo. 2006.
SANTOS FILHO, João dos. Ditadura utilizou a Embratur para tentar ocultar a repressão, a tortura e o assassinato. Revista Espaço Acadêmico, 84, 01–09. 2008.
SANTOS FILHO, João dos. Ideologia e o fenômeno do turismo na sociedade contemporânea. In: Anais do V Seminário de Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, 2008.
SANTOS FILHO, João dos. Bases teóricas do termo pós-turismo em Sérgio Molina. In: Anais do VI Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul, 2010.
SILVA, Maria Alice Siqueira Mendes e. Sobre a Análise do Discurso. Revista de Psicologia Da UNESP, 4(1), 16–40, 2005.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
SOUZA, Fabíola Amaral Tomé de. Umbanda e Ditadura Civil-Militar. Revista Angelus Novus, São Paulo, n. 11, p. 13-32, 2 out. 2017. Universidade de São Paulo. Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais.
URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. 3. ed. São Paulo: Sesc, 2001.
URRY, John; CRAWSHAW, Carol. Turismo e consumo visual. Revista Crítica de Ciências Sociais, [S.I], v. 43, n. 4, p. 47-68, out. 1995.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 RITUR - Revista Iberoamericana de Turismo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Os Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de publicação simultaneamente disponibilizada de acordo com uma Licença Creative Commons 4.0 Brasil, permitindo o compartilhamento sem fins lucrativos de sua obra pelo seu uso/citação de modo referenciado (com reconhecimento da autoria e publicação nesta revista).