Devir algoritmo: usos do CHAT-GPT em aulas de argumentação
Resumen
O educador cubano José Martí nos convoca a “conhecer as forças do mundo” a fim de “fazê-las trabalhar”, ao invés de apenas valorar as mudanças como boas ou más. As Inteligências Artificiais (doravante IA) são, sem dúvida, uma das “forças” do contemporâneo. Há, no entanto, muito a ser debatido e compreendido ainda. Dentre as tecnologias de IA, as assim chamadas inteligências artificiais gerativas, como o Chat-GPT, têm se tornado cada vez mais populares no ambiente acadêmico. Diante desse cenário e das reflexões desenvolvidos na GrupA – Grupo de Práticas em Semântica e Discurso (UFBA/CNPq), passei a me perguntar sobre os modos de construir o programa de uma disciplina que ministro para os cursos de Letras da Universidade Federal da Bahia - Estratégias Argumentativas em Língua Portuguesa. Esse questionamento, unindo preocupações de ensino e de pesquisa, me conduziu à construção da sequência didática que ora apresento e discuto nesse artigo, e que apliquei durante dois semestres consecutivos no ano de 2023. Junto às práticas pedagógicas de Paulo Freire, retomamos diferentes autores a fim de construir essa sequência didática em quatro etapas: a) tematização; b) problematização; c) avaliação; e d) transvaloração. As conclusões do artigo discutem a precarização dos letramentos das classes trabalhadoras no capitalismo algorítmico, ao passo que apontam a possibilidade de produzir fissuras no ritual ideológico.
Descargas
Citas
AUROUX, Sylvain. Revolução tecnológica da gramaticação. Campinas: Ed. da Unicamp, 1992.
AUROUX, Sylvain. A filosofia da linguagem. Campinas: Ed. da Unicamp, 1998.
BENVENISTE, Émile. Da subjetividade na linguagem [1958]. In: Problemas de linguística geral II. 2. ed. Tradução de Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes Editores, 2006 [1974].
BENVENISTE, Émile. O aparelho formal da enunciação [1970]. In: Problemas de linguística geral I. 5 ed. Tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas, SP: Pontes Editores, 2005 [1966].
BUTLER, Judith. Discurso de ódio: uma política do performativo. São Paulo: Editora Unesp, 2021 [1997].
CUNHA JÚNIOR, Henrique Antunes. NTU: introdução ao pensamento filosófico bantu. Revista Educação em Debate, Fortaleza, Ano 32, v.1, n.59, p. 25-40, 2010.
DUCROT, O. Esboço de uma teoria polifônica da enunciação. In: O dizer e o dito. Tradução de Eduardo Guimarães. Campinas: Pontes, 1987.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 [1970].
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002 [1996].
MACHADO, Isadora; SILVA, Luiz Felipe Andrade. Ferramentas linguísticas da modernidade colonial-capitalista: uma tomada de posição latino-americana frente ao problema da colonização na história das ideias linguísticas. Línguas e Instrumentos Linguísticos, Campinas, SP, v. 25, n. 49, p. 3–49, 2022. DOI: 10.20396/lil.v25i49.8667023. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/lil/article/view/8667023.
MACHADO, Isadora Lima. Espaço de enunciação: uma ferramenta para traduzir no Sul Global. Revista Recorte, v. 18, n. 2, p. 16-28, 2022. Disponível em: http://periodicos.unincor.br/index.php/recorte/article/view/6452
GOODFELLOW, Ian et al. Generative adversarial nets. In: Advances in neural information processing systems, v. 27, 2014.
hooks, bell. Ensinando a transgredir: educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013.
MARTÍ, José. La edad del oro. Bogotá: Grupo Difusión Científica de Colombia, 2008. Disponível em: https://web.seducoahuila.gob.mx/biblioweb/upload/Jose%20Marti%20-%20La%20Edad%20de%20Oro.pdf
MASSMANN, Débora. Argumentação: em busca de um conceito. In: Línguas e instrumentos linguísticos, Campinas, v. 26, p. 99-110, 2009.
MONTAÑO, Abraham González. El dispositivo digital en la era del capitalismo algorítmico: el caso de ChatGPT. In: Sintaxis, n. 11, p. 33-48, 2023.
ORLANDI, Eni. A língua brasileira. In: Revista Ciência e Cultura. Vol.57. No.2. São Paulo Apr./June 2005.
PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, F.; HAK, T. Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 3. ed. Campinas: Ed. Da Unicamp, 1997 [1969].
PÊCHEUX, Michel. Sobre os Contextos Epistemológicos da Análise do Discurso. Escritos, n. 4, p. 7–16, 1999.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Novos Rumos, v. 17, n. 37, p. 4-25, 2002.
RUSSELL, Stuart. NORVIG, Peter. Artificial Intelligence: A Modern Approach. Malaysia: Pearson Education Limited, 2016.
VERGER, Pierre Fatumbi. Noção de pessoa e linhagem familiar entre os iorubás. In: Saída de Iaô. Cinco ensaios sobre a religião dos orixás. Salvador: Fundação Pierre Verger, Axis Mundi, 2002.
ZOPPI-FONTANA, Mónica Graciela. Retórica e Argumentação. In: ORLANDI, E. LAGAZZI, S. [org.] Introdução às Ciências da Linguagem – Discurso e Textualidade. Campinas: Pontes Editores, 2006.
