A reprodução da espécie humana em questão nas utopias feministas de Charlotte Perkins Gilman e Marge Piercy
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.200332.215-226Palavras-chave:
Utopias Feministas, Reprodução Humana, Separatismo, BiotecnologiaResumo
Uma das características femininas mais manipuladas pelo patriarcado tem sido o fato de que, para que a reprodução da espécie humana ocorra, a geração do novo ser deva ocorrer exclusivamente no corpo da mulher. Esse dado biológico que, apesar das mais avançadas biotecnologias, ainda não foi passível de alteração, adquiriu matizes culturais que relegaram as mulheres à posição de meras reprodutoras da espécie humana, "cálices sagrados", onde seriam gerados os homens, considerados os verdadeiros motores da sociedade. As distopias feministas, desde o recentemente redescoberto Swastika Night (1937), de Katharine Burdekin, até o best-seller The Handmaid's Tale (1985), de Margaret Atwood, têm explorado essa visão humilhante da mulher. Por outro lado, as utopias feministas também não têm deixado de enfocar essa importante questão, imaginando então alternativas que liberariam a mulher dessa determinação biológica. O presente artigo demonstra como o romance Herlaud (1915), de Charlotte Perkins Gilman, cria uma utopia separatista, enquanto que Woman on the Edge of Time (1976), de Marge Piercy, prevê uma biotecnologia reprodutora que dispensa totalmente o separatismo, de que Gilman foi pioneira mas que, alimentado pelo momento político, proliferou nas utopias feministas dos anos 60 e 70.