“Gostava de surpreender o passado no fundo de cada instante”: diálogos entre história e ficção em Os Mandarins
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202065.48-58Palavras-chave:
Ficção. História. RomanceResumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre a possível leitura de Os Mandarins, de Simone de Beauvoir, como se romance histórico. Para tanto, a orientação teórica parte de discussões encontradas principalmente em Ricoeur (2010), Mignolo (1993) e Weinhardt (2011; 2015). A noção de tempo histórico é concebida pela apropriação do tempo pretérito e pelo modo como esse tempo é figurado na instância ficcional, marcando a vivência das personagens e condicionando a ação romanesca. Beauvoir refigura os tempos do passado no presente, e nele entrecruza a possibilidade de uma relação entre a história e a ficção. Isto é, Os Mandarins rompe com a premissa de que o discurso que se enquadra na convenção de ficcionalidade tem as relações entre discurso e mundo cortadas; assim como aquele que se enquadra na convenção de veracidade assumiria uma relação de correspondência entre o discurso e o mundo. Os fios do romance são seguramente tramados ao longo de mais de 700 páginas, desenhando cenas de uma França pós-guerra sob o olhar dos intelectuais parisienses. Os acontecimentos e personagens são tão irreais (pertencentes, nesse momento, ao mundo da ficção) quanto verdadeiros (fizeram parte, num outro momento, da realidade empírica). Os fios de tais convenções entrecruzam-se, portanto.
J’aimais surprendre le passé au fond de chaque instant: dialogue entre l’histoire et la fiction dans Les Mandarins
L’objectif de cet article est de réfléchir sur la possible lecture de Les Mandarins, de Simone de Beauvoir, comme si roman historique. Pour ça, l’orientation théorique c’est à propos des discussions fait par Ricoeur (2010), Mignolo (1993) et Weinhardt (2011; 2015). La notion de temps historique est conçue par l’appropriation du temps passé et par la manière comme ce temps est figuré dans l’instance fictionnelle, en marquant l’expérience des personnages et en conditionnant l’action romanesque. Beauvoir refigure les temps du passé dans le présent, et y croise la possibilité d’une relation entre l’histoire et la fiction. C’est-à-dire, Les Mandarins rompt avec la prémisse de que le discours qui correspond à la convention de fictionalité coupe les relations entre les discours et le monde ; ainsi comme celui qui correspond à la convention de véracité a une relation directe entre le discours et le monde. Les fils du roman sont tissés sur plus de 700 pages, en désignant des scènes d’une France de l’après-guerre sous les yeux d’intellectuels parisiens. Les événements et les personnages sont aussi irréel (appartenant, maintenant, au monde de la fiction) que vrais (ils faisaient partie, dans autre moment, de la réalité empirique). Les fils de telles conventions se croisent donc.