Notas sobre o fascismo: o gênero neutro como ameaça ao imaginário da soberania linguística
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202169.295-307Palavras-chave:
Discurso. Gênero neutro. Fascismo. CinismoResumo
A partir da hipótese de que o discurso fascista se inscreve em uma prática discursiva cínica que, ao atingir a língua, atinge diretamente o sujeito usuário da língua, analiso excertos do Projeto de Lei no 5198/2020, de autoria do Deputado Federal Junio Amaral, do Partido Social Liberal, o PSL. As reflexões propostas neste texto dão conta de que o discurso que se constrói no documento legislativo, compreendido o discurso na esteira de Foucault, como a luta pelo poder do qual se quer apropriar, a partir de um procedimento de interdição por direito privilegiado do sujeito do enunciado, entrecruzado tanto ao procedimento do ritual da circunstância jurídica quanto ao do tabu do objeto possibilita que o fascismo da atualidade busque sua permanência no seio social e siga produzindo efeitos nefastos sob a forma de práticas discursivas cínicas. Essa prática discursiva se inscreve em um espaço de verdade totalitária, soberana, fazendo-nos observar de perto o abismo instalado nas fissuras de uma democracia esfacelada, à qual tentamos desesperadamente sobreviver e (r)existir.