A escrita gaguejante e performática em "Manchas na pele, linguagem", de Nuno Ramos
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202480.207-221Palavras-chave:
Nuno Ramos, Manchas na pele linguagem, Matéria-linguagem, Gagueira, PerformanceResumo
O fragmento “Manchas na pele, linguagem”, que abre o texto Ó (2008), do escritor e artista plástico Nuno Ramos, está inscrito no embate entre palavra e matéria. Este artigo tem, como objetivo, discutir as noções dos limites da linguagem e do dizer nesse fragmento, assim como refletir a propósito da construção de uma linguagem-matéria performática apontada e tecida pelo narrador da obra de Nuno Ramos. Sustenta-se, aqui, que “Manchas na pele, linguagem”, ao buscar conhecer a origem da palavra, joga luz à sua incapacidade mimética. Acrescente-se que essa insuficiência da língua em significar faz com que o narrador encene a linguagem, mais do que apenas a utilize para uma comunicação pragmática. Nesse sentido, há, no primeiro fragmento da obra, a matéria-linguagem em situação de performance. Para refletirmos a propósito dessas problematizações, lançaremos mão dos pressupostos de Deleuze (2011) acerca da fratura na língua corrente para mobilizar uma linguagem/escrita gaguejante e dos estudos de Zumthor (2005; 2007) sobre performance. Vislumbra-se, aqui, um texto que propõe uma escrita fraturada, mobilizando uma gagueira criativa. São nessas brechas que a performance, enquanto ação viva, precisa tomar espaço, a fim de concretizar a materialidade da linguagem no corpo.
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