As possibilidades de construção do(s) sentido(s): da fôrma-leitor à função-leitor
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.200230.141-162Palavras-chave:
Leitura, interpretação, ideologia, fôrma-leitor, função-leitorResumo
Este artigo pretende discutir como as atividades de leitura
podem contribuir com a construção dos sentidos dos textos, criticando, de
acordo com os pressupostos teóricos da Análise de Discurso de
'linha francesa', a concepção de leitura única. Entendemos interpretação
como a possibilidade de o sujeito compreender que o sentido pode ser
outro, mas não qualquer um, pois para nós interpretar é compreender que
a ideologia faz parecer naturais determinados sentidos e não outros e,
quando o leitor chega à interpretação ele assume o que denominamos
função-leitor. Ao assumir a função-leitor, o sujeito não repete os sentidos
instituídos como dominantes e, sim, procura investigar como se dá, num
dado momento sócio-histórico, o funcionamento discursivo, que é novo e
único em cada texto. Por outro lado, a fôrma-leitor está relacionada à
interdição do sujeito ao interdiscurso, o que equivale a dizer que o leitor
não consegue se inserir no processo sócio-histórico de construção de
sentidos e, por isso, ele tem a ilusão de que cada palavra tem um sentido
único. A partir de análises de redações de alunos do curso de Psicologia
de uma universidade particular de Ribeirão Preto-SP, consideramos que
as atividades de leitura realizadas na escola, principalmente aquelas
pautadas na repetição do sentido legitimado pelo livro didático, levam o
sujeito a assumir a fôrma-leitor e, diante disso, julgamos fundamental que
o trabalho escolar aconteça não pela imposição de um sentido, mas sim,
possibilitando ao sujeito estar em contato e em confronto com as várias
possibilidades de leitura dos textos.