O progresso como disrupção social em O alienista de Machado de Assis e A nova Califórnia de Lima Barreto
DOI:
https://doi.org/10.28998/2317-9945.202168.391-405Palavras-chave:
Machado de Assis. Lima Barreto. Teoria da disrupção social. Émile Durkheim. Positivismo.Resumo
A partir de uma inconsistente concepção de sanidade, o doutor Simão Bacamarte, de O alienista, tenta levar uma vaga noção de progresso ao povoado de Itaguaí, perseguindo a erradicação da insânia. Com sua fé excessiva em uma ciência limitada, e em nome de um progresso positivista, ele impõe uma ideia de progresso que é nebulosa e enviesada, ao mesmo tempo, ignorando seu impacto disruptivo e o que Émile Durkheim descreve como anomie. Em sua novela, Machado de Assis desafia a noção do progresso no auge do positivismo no Brasil, no começo da Primeira República, simulando sua utilização na sociedade. Já em A nova Califórnia, quase três décadas mais tarde, diante da desilusão trazida pelo fracasso do projeto da Primeira República, Lima Barreto também desafia uma fé totalizante na ciência da altura, que tinha prometido trazer grandes avanços de cunho político-social. Se em seu húbris Bacamarte falha, simplificando a complexidade da psicologia humana, Barreto aproveita a hesitação do conto fantástico para posicionar o leitor num espaço liminar no qual é difícil distinguir entre a ciência e a alquimia. Assim, na misteriosa figura de Raimundo Flamel, o papel de salvador, atribuído à ciência contemporânea e o progresso, desestabiliza o curso da sociedade.