O caráter interseccional do desalento e seus efeitos de sentido no discurso do empreendedorismo

Resumo

Na perspectiva da Análise materialista do Discurso, tratamos do caráter interseccional do desalento, tendo por pressuposto o direito ao trabalho na sociedade contemporânea. Considerando que o capitalismo radicaliza a constituição racial, sexual e técnica do trabalho, voltamos o nosso interesse ao fenômeno do desalento, considerado enquanto expressão do antagonismo capital-trabalho, caracterizando a condição de trabalhadores/as que desistiram de procurar emprego. Nesta reflexão teórica, temos por objetivo contribuir com os estudos que versam sobre o processo de precarização do trabalho, com especial atenção ao desalento, em seus efeitos de sentido. No Brasil, temos observado a intensificação das condições sócio-históricas de negação do direito ao trabalho, com maior efeito sobre as mulheres e a população negra. Nesse sentido, o empreendedorismo surge como uma promessa ao trabalhador e a trabalhadora desalentado/a, que é levado/a a acreditar que o almejado sucesso profissional depende apenas de seu esforço individual, ignorando as condições estruturais que determinam as suas possibilidades de trabalhar. Desse modo, o caráter interseccional do desalento produz efeitos de sentido no discurso do empreendedorismo, dissimulando a precarização do trabalho sob o domínio neoliberal.